quinta-feira, novembro 30, 2006

o Beijo

Fui à procura de imagens na net, para colocar um post que abordasse o tema com a maior justiça possível. Convencido sem esforço que é uma matéria que se resume de uma forma perfeita ás imagens, encontro as imagens mais belas postadas em blogs. Não sou o único é a expressão que me ocorre, ao constatar esta universalidade. Pensei que só para alguns de nós fosse assunto nuclear o beijo e afinal verifico que o é para a maioria de nós, esteticamente, sentimentalmente, psicologicamente, sexualmente, enfim os todos os mente…. A mim ocorre-me sobretudo a linguagem do beijo, o som do beijo, o sabor e o despir do beijo… caramba e não é que o danado tem o poder de unir ou separar os amantes… Chego a achar sem duvida que o beijo é bem mais sexual que o próprio acto, como se fosse o sal do acto sexual, o que o transporta bem mais para além daquelas coisas mais apanágios da criação. O beijo é o menos redutor de todas as formas de comunicação entre duas pessoas. Com a família, com os amantes nas suas vertentes mais caprichosas, é a derradeira vontade da lívido libertada em forma de amor físico, recheado de sensações que completam os sentidos… o sabor, a textura, a temperatura o movimento, a humidade, o enlevo… Aquele que aprende a matar o beijo por ser incómodo, aprende de forma segura a matar a sua vitalidade, a sua razão de estar vivo, de respirar. O beijo é uma bela forma de vida. Acredito porque sei, que o beijo é capaz de revelar lados escondidos nas pessoas e as pessoas que não beijam acabam sentindo uma solidão tremendamente dolorosa. O beijo é das mais importantes alquimias da alma que se quer comunicar de forma amorosa, entre as pessoas que se querem bem. Através do beijo se descobre a fragilidade, a humanidade e o subliminal do ser. Quem acredita que o beijo salva, acredita na comunicação. Acredita no outro, quase ao ponto de o desejar. Xicha, isto deve ser certamente sede de beijo…

RSA - Voluntariado

Bairro do Aleixo. 1:00/2:00 Horas da madrugada.
Frio… tem frio a subir a calçada nos passos incertos em direcção aos sacos de comida. Quem sabe uma roupita limpa, umas calças ou um cobertor.
Chegam como feras de súbito amansadas pela necessidade de uma presença que se rende.
Estamos desta feita dois grupos, partilhamos o mesmo espaço. No fundo tem dentro de cada um dos voluntários uma motivação insondável. Uma coisa de grito calado, de resistência. Mas os actores principais deste palco, o Palco do Aleixo, são estes homens e mulheres maioritariamente jovens que irrompem pela madrugada rua acima, saídos das torres como se fossem ratos a sair das fossas, do esquecimento social, como se duma ferida infectada se tratassem.
Ei-los que chegam mansos mas apressados, é que se faz tarde a qualquer instante para voltar ás torres, onde esperam horas, minutos, segundos, milionésimos de segundos uma horrenda e suja história, a ansiada chegada da mãe do esquecimento: A droga.
Aqui é rainha, com seus anónimos quase invisíveis distribuidores, que se deslocam em velozes viaturas de alta gama. Aqui se confirma que são os sem abrigo da cidade os eleitos candidatos à toxicodependência. Maravilha para os traficantes. É que é gente altamente necessitada, gente da qual a sociedade já não pede muitas contas, gente que passa despercebida pelo desprezo que causa aos transeuntes e ás autoridades, que maravilha… gente pronta para entrar na dependência, até traficar se assim for necessário, gente com problemas psicológicos, problemas de saúde graves, problemas familiares, enfim de toda a espécie.
São muitos destes sem abrigo as vítimas escolhidas pelas redes de traficantes que operam no Aleixo sob a calada da noite, sob o consentimento hipócrita das autoridades ou a sua competência insuficiente para controlar o tráfico. Não tenho duvida que das ruas do Bairro do Aleixo já se passou de uma situação de sem abrigo para uma situação de foco de doença, de desumanidade a um nível do incompreensível.
Pobre cidade onde nasci, quando irão os nobres que te governam olhar para ti como um todo e deixar de dar tanta importância ao estado das fachadas?

segunda-feira, novembro 27, 2006

O MITO DA ALMA GÊMEA

Aristófanes, poeta cómico grego, contemporâneo de Sócrates, afirmou que no começo os homens eram duplos, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. Esses seres mitológicos eram chamados de andróginos. Os andróginos podiam ter o mesmo sexo nas duas metades, ou ser homem numa metade e mulher na outra. Bem, isso tudo Aristófanes criou para explicar a origem e a importância do amor. O mito fala que os andróginos eram muito poderosos e queriam conquistar o Olimpo dos deuses, e para isso construíram uma gigantesca torre. Os deuses, com o intuito de preservar seu poder, decidiram punir aquelas criaturas orgulhosas dividindo-as em duas, criando, assim, os homens e as mulheres. Segundo o mito, é por isso que homens e mulheres vagueiam infelizes, desde então, em busca de sua metade perdida. Tentam muitas metades, sem encontrar jamais a certa. A parte do mito sobre a origem da humanidade perdeu-se ao longo das eras, mas a ideia de que o homem é um ser incompleto, em sua essência, perdura até hoje. Talvez seja em função disso que o ser humano busca, incessantemente, por sua alma gémea para preencher sua carência afectiva. Embora o romantismo tenha sustentado esse mito por milénios, e muitos de nós desejemos que exista nossa metade eterna, é preciso reflectir sobre isto à luz da razão. Se fôssemos seres incompletos, perderíamos nossa individualidade. Seríamos um espírito pela metade, e não poderíamos progredir, conquistar virtudes, ser feliz, a menos que nossa outra metade se juntasse a nós. É certo que vamos encontrar muitas pessoas na face da terra com as quais temos muitas coisas em comum, mas são seres inteiros, e não pela metade. O que ocorre é que, quando convivemos com uma pessoa com a qual temos afinidades, desejamos retê-la para sempre ao nosso lado. Até aí não haveria nenhum inconveniente, mas acontece que geralmente desejamos nos fundir numa só criatura, como os andróginos do mito. E nessa tentativa de fusão é que surge a confusão, pois nenhuma das metades quer abrir mão da sua forma de ser. Geralmente tentamos moldar o outro ao nosso gosto, violentando-lhe a individualidade. O respeito ao outro, a aceitação da pessoa do jeito que ela é, sem dúvida é a garantia de um bom relacionamento. Assim, a relação entre dois inteiros é bem melhor do que entre duas metades. As diferenças é que dão a tónica dos relacionamentos saudáveis, pois se pensássemos de maneira idêntica à do nosso par, em todos os aspectos, não teríamos uma vida a dois. Pessoas com ideias diferentes têm grande chance de crescimento mútuo, sem que uma queira que o outro se modifique para que se transformem num só. Assim, vale pensar que embora o romantismo esteja presente em novelas, filmes, peças teatrais, indicando que a felicidade só é possível quando duas metades se fundem, essa não é a realidade. Todos somos espíritos inteiros, a caminho do aperfeiçoamento integral. Não seria justo que nossos esforços por conquistar virtudes fosse em vão, por depender de outra criatura que não sabemos nem se tem interesse em se aperfeiçoar. Por todas essas razões, acredite que você não precisa de outra metade para ser feliz. Lute para construir na própria alma um recanto de paz, de alegria, de harmonia e segurança, como espírito inteiro que é. Só assim você terá mais para oferecer a quem quer que encontre pelo caminho, com sua individualidade preservada e com o devido respeito à individualidade do outro. Pense nisso!

sexta-feira, novembro 24, 2006

Súa - Ecuador

Yo nací en una casita pequeñita
pura de paja, al aurilla del mar...
No tenía juguetes, no tenia nadia
y para mi consuelo, mi contestaba el mar...
Súa, Súa... contestaba el mar...
Súa, Súa... contestaba el mar...
Ay qué lindo es vivir junto al mar
en un rincón sitio lindo á las olas al murmurar...
yo hablaba con la soledad y para mi consuelo,
mi contestaba el mar...
Súa, Súa... contestaba el mar... Súa, Súa... contestaba el mar...
homenaje a José Bangéra
un mentor y un profesor muy bueno

quinta-feira, novembro 23, 2006

cidade velha

Posted by Picasa
Passava entre as paredes de uma cidade velha, escondia os medos libertando os braços, à largura do corpo. Soltava então passos largos em rasgo de calçadas frias. Sentia o sangue quente e calmo, a mente relaxada mas atenta. Que sentido, tanto sentido. Que cada coisa que fazia, cada coisa que adorava, tinha um sentido profundo em sua própria existência, uma relação para além do que reconhecia em si próprio usualmente. Entendeu as pessoas que amava, aqueles gestos que são tradutores de todos os gestos. Deixou-se levar pelo êxtase do enlevo, elevou-se assim, perdido e solto no seio das revelações. Acreditou de novo. Nasceu de novo para o som da sua própria respiração. Viu-se de novo, renovou votos, sorrio para dentro. Acreditou em cada um dos seus passos enfim, não estar só. Sentiu o propósito das coisas.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Küllinger

Sorriso que revelas no rosto a criança em ti. A dormência do mal… Tem borboletas em baixo e águias nas alturas. São duas, um casal, rodopiam nos ares brincam no circuito imaginário do etéreo. A vida encheu-se de ar puro e não tarda a revolução dos elementos. Já dentro acontece, nas entrelinhas da existência. Já tem quem a intua, está meio marginalizado, incompatibilizou-se por consequência. Anda nos disfarces mas não é policia, no teatro mas não é actor. É mais a barriga dum prazer inconfesso. A solidez do bom senso flutuou para fora de mim. Não tem estático aqui para que agarre, é assim… Gelatinoso, informe, mutante, o dia e a noite que assisto vigilada pelas estrelas. Pela estrela mãe, que encontro pela brecha da clarabóia. Agarro as orações que desfiz, certezas e disciplinas, alquimias… Vou de encontro ao abismo que me conserva, sem medo… Sempre só, rodeado de mil quimeras…. Inconstante e paralisado de amor, … Frémito viciado de ternuras e enlaces que desprezo…. Tanto como anseio… Trouxeste-me a luz, claridade à razão. Das trevas vesti as saudades…. Não mais temi o que abominei Sempre soube que era um dentro de ti Apenas mais um nervo palpitante Que se escoou num murmúrio de vento…. Deixas-me só, saudade, amante… E as amarras intensificam-se A eternidade está aqui a um passo Um passo de gigante Um gigante de vento… Um lamento de um ventre… O azul do teu céu agonia-me de doçuras… Sempre foste a minha eleição, afinal…. Segue teu caminho como eu sigo o meu… Quem sabe o que restará no final. Quando o inicio se desconheceu.

terça-feira, novembro 14, 2006

se me for permitido

O tempo passa e eu amo-te, Ai como sei… pois se estou zangado comigo. De todas as coisas que não aprovo de imediato em ti, no modo como conduzes, perante a minha abstinência esforçada, vem este consolo. De todas as diferenças que adivinhei, que testemunhei, que comprovei, justamente por ter comprovado e manso relutante no meu interior. De fora só obtiveste minhas incógnitas. Amo-te porque causas as provas da minha paz Uma paz que germina das sementes de uma guerra, de uma inquietação que não te mostro. Amanhã já cá estarei, se assim me for permitido É assim que te amarei, se me for permitido…

quarta-feira, novembro 08, 2006

Todos iguais... ainda vá!

Somos todos iguais ainda vá, agora somos todos irmãos… ai! Como viver sabendo as partes do meu corpo doentes, irreconhecíveis, em gangrena? Como posso viver a luz desinfectada de um amor puro, na rua, se te vejo despido, doente, mente vaga e confusa. Se te sinto assim tão atrapalhado. Se tu és a minha outra perna, como posso disfarçar o meu coxeio? E vivo com o que de mim que decidi assumir, sofre. Se somos todos um, vejamos quem sorri para que acalente quem sofrendo chora, porque precisa de compaixão. Tens tu?... eu não… Arranco uma casca mais ao meu coração.

terça-feira, novembro 07, 2006

Tás no meio

Estás sempre onde estiveste, mas hoje percebi-te com uma realidade quase virtual. Volta meu bem, que me quero pronto para te receber.