quarta-feira, outubro 28, 2009

a boleia ...


A BOLEIA


Imagina que vives numa casa que faz parte de um condomínio.
Uma moradia, um apartamento, … imagina.


Depois, imagina, que através de um simples correio electrónico, informas de algumas das rotinas de que dispões, aquelas que achas podem ser úteis a alguém mais.
Por exemplo, que todas as manhãs te deslocas a determinada hora, para determinado local.
Que fazes determinado trajecto.


Imagina que nesse condomínio tem alguém que faz muitas vezes esse trajecto, até que tem ainda mais alguém que costuma ir para um lugar que fica de passagem.
Seriam 3 pessoas a partilhar um mesmo transporte, a economizar e aplicar as dinâmicas sustentáveis sobre as suas vidas.


Quem nos convenceu que na partilha de determinadas coisas básicas e importantes, como este caso a que chamarei do “caso da boleia” teríamos que conhecer ou dar a conhecer as vidas das pessoas em pormenor?
Das pessoas que transportamos por exemplo!
Quem ganhou com o estabelecimento dessa desconfiança?
Qual o preço a que nos sai e a quem o pagamos?
Alguém a quem conhecemos tão bem como aqueles a quem daríamos a boleia?


Certamente que não.


Não chegará a ser uma espécie de falso conforto, de um egoísmo disfarçado de conforto? (esta é para o que pensaste J)


Imagina que no acerto das tuas rotinas crias redes de comunicação, que não precisam de ser redes de assuntos pessoais, mas apenas de serviço…, de boleias.
Imagina que ganhas qualidade de vida com isso, economizas e andas mais feliz.
Que encontras enfim o modo simples que tanto necessitavas encontrar, para expressar a tua contribuição comunitária sem ter que ir a nenhuma espécie de urna de voto.


Imagina que depois de ler este texto envias um correio electrónico às pessoas “do teu condomínio”, a informar de algumas das tuas rotinas, aquelas “em que não te acontece nada” e depois imagina que te vais divertir imenso com a situação, que vais aprender imenso, que vais ganhar imenso enquanto ajudas o ambiente…
Que de súbito somos milhares a reorganizar os dias e os recursos de todos de forma divertida, em comum e sem juízo de valores, sem entraves sociais, apelando apenas à nossa imaginação criativa e positiva em beneficio próprio e não só.


Imagina um ambiente mais são, mais saúde e felicidade.
Mais integração e mais necessidade de contacto de uns pelos outros.
Mais liberdade e ecologia.


Pois eu irei enviar um correio electrónico ao meu pequeno condomínio de 6 vizinhos, a informar que todos os dias me desloco para determinado lugar a determinada hora, e se algum necessitar de uma boleia amanhã ou quiçá um dia destes, a rede aumenta, e assim estarei um passo mais próximo da boleia que me trouxe até aqui.


Namastê



terça-feira, outubro 20, 2009

A missão de cada um


  
Invadiu-me certa vez uma inexorável perplexidade acerca do sentido da vida.
Decidi, então, peregrinar por este mundo em fora, para decifrar tão profundo enigma.
A todos os seres que encontrava propunha a questão.
À frondosa árvore, enraizada no centro de grande praça, supliquei que me revelasse sua verdadeira missão.
Explanou-me ela:
Em primeiro lugar, devo manter-me viva, forte, saudável, para melhor poder cumprir meu papel.
Em segundo, descobrir exactamente qual seja este papel.
E, por fim, desempenhá-lo diligentemente.
A mim cabe proteger os peregrinos que por aqui passam, nos tórridos dias de verão, ofertando-lhes minha generosa sombra.
Segui adiante e deparei-me com um belo gato siamês.
Segredou-me ele que sua missão consistia em fazer companhia a uma velha senhora, ofertando a ela todo seu encanto e ternura.
Por muitos e muitos dias, por escabrosas veredas, feri meus pés à procura de respostas à pungente dúvida.
O esforço foi sobejamente recompensado. Mas eu sentia que era preciso ainda ouvir uma sábia opinião de um representante do género humano.
Finalmente, após fatigante busca, no alto de um outeiro, encontrei um sábio anacoreta, longas barbas brancas, olhar perdido no horizonte, a meditar...
Acolheu-me amavelmente. Após ouvir, todo paciência e atenção, meu relato e minhas súplicas, sentenciou gravemente:
Meu prezado buscador. Os sábios seres da natureza propiciaram a ti as respostas.
Já és possuidor do inefável segredo. Não obstante, mais posso aduzir:
Caso descobrires que és uma árvore, sejas realmente uma árvore; se fores um gatinho, não te constranjas em ofertar toda tua meiguice; e se um leão, coloca sempre toda tua energia em tudo que fizeres.
Enfim, é preciso descobrir teus verdadeiros talentos, aprimorá-los, produzir os melhores frutos, e então, ofertá-los generosamente.
* * *
Ninguém habita este planeta sem objectivo, sem finalidade maior.
Aquele que cultiva a terra realiza uma missão. Como aquele que governa ou que instruí..
tudo se encadeia na natureza. Ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, concorre, dessa forma, para a realização dos desígnios da Providência.
Cada um tem sua missão na Terra. Cada um pode ser útil para alguma coisa.
Desta forma, buscadores que somos, o que devemos encontrar é a nós mesmos, descobrindo depois no que podemos ser úteis.
Que habilidade temos? Quais são nossos talentos? O que podemos fazer pela comunidade ao nosso redor?
É tempo de descoberta e de acção. Cada dia na Terra é oportunidade única que não pode mais ser desperdiçada com as distracções e ilusões que criamos ao longo das eras.
  
com base em texto do livro A magia das
 palavras, de Ramiro Sápiras, ed. Recanto das letras e no item 573 de
O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Com fúria e raiva acuso o demagogo
e o seu capitalismo das palavras.


Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
que de longe muito longe um povo a trouxe
e nela pôs sua alma confiada.

De longe muito longe desde o início
o homem soube de si pela palavra
e nomeou a pedra, a flor, a água
e tudo emergiu porque ele disse.

Com fúria e raiva acuso o demagogo
que se promove à sombra da palavra
e da palavra faz poder e jogo
e transforma as palavras em moeda
como se fez com o trigo e com a terra.



citação do poema Com fúria e raiva, de Sophia de Mello Breyner Andresen, da obra O nome das coisas  

quinta-feira, outubro 08, 2009

DESMONTAGEM PESSOAL


O que é?      


É possível?


Se passível de ser reconhecida pelo que não sendo tu… está atento e observa, serás tu?





Que referir, quantificar, do milagre da vida quando és somente tu, desmontado das inércias dos gestos difusos. Quando as culpas e as penas perdem o sentido, deixem mesmo de existir.





Se tem outros capazes de te ler, descodificar cada um dos teus gestos, como não serás tu, capaz de os desmontar? Logo tu que lhes destes a razão e a existência. Quem mais haveria de os desmontar, senão quem os criou?


E se não os vês, apesar de outros que não tu?


Vais negar a sua existência?


Vais negar as suas obras, os seus ónus?


Como poderás tu, desmontar as dores do teu parto, se não reconheceres a tua gravidez?





Em todo Ser da criação, na razão natural de seu manifestar está a necessidade de amar, de ser amado.


Quem pode contestar o amor que o nutre e apartado querer ter razão, obter reconhecimento?


Se sendo amor cooperação, criação, vida enfim, como viver na penumbra?





Não tem quase… patologia que resista. Tem que deixar o seu amor livre, como acto de respirar, inconsciente, natural e espontâneo.


A liberdade não sai na lotaria, mas no bom amadurecer do fruto.





O tempo ainda é preciso.


O amor ainda é mais.





Namastê