quarta-feira, junho 29, 2011

MENTIRA

Porque é que as pessoas mentem aos outros? 

Porque é que as pessoas mentem a si próprias? 

Por um motivo muito simples. É extremamente desconfortável encarar a realidade. 
É muito difícil o desconforto de ter que confrontar uma pessoa com o que ela não quer aceitar.

Mas como é que isso se dá?

Pois bem, vamos por partes. Mentir a si próprio. É a pior de todas as mentiras.

É aquela que desfalca o ser humano. Aquele ser que não se aceita, não aceita as suas limitações e deficiências, não aceita que não é como os outros, e principalmente não aceita que não é suposto ser como os outros nem como os outros estão à espera que ele seja. 

Esse ser vive num conflito interno permanente.

Esse ser nunca será feliz. Cria a ilusão – e acredita nela – de que é aquilo que é mais confortável para si próprio, sem se preocupar em cuidar do que está a fazer à sua energia original.

Depois há os que mentem aos outros. Esse ser é apenas cobarde. Eu não estou a dizer que vocês têm de contar tudo da vossa vida a toda a gente; se não querem contar, não contem. 

Todo o ser humano deveria cultivar algo de misterioso. Não há mal algum nisso. Mas mentir, afirmar uma verdade falsa, isso é que não. Podem apenas dizer que não querem comentar esse assunto, ou que não vos apetece falar. Mas mentir, nunca.

Não se esqueçam de que todas as vossas acções atraem consequências. 

E a mentira, a partir do momento em que é uma manipulação energética da verdade, traz sempre consequências de manipulação. 

E eu não sei se vocês vão gostar dessas consequências.

terça-feira, junho 28, 2011

A imensa alegria de servir


Toda natureza é um desejo de serviço.

Serve a nuvem, serve o vento, serve o sulco.

Onde houver uma árvore para plantar,planta-a tu.

Onde houver um erro para corrigir,corrige-o tu.

Onde houver uma tarefa que todos recusem,aceita-a tu.
Sê quem tira:
a pedra do caminho,
o ódio dos corações
e as dificuldades dos problemas.
Há a alegria de ser sincero e de ser justo.
 
Há, porém, mais do que isso,
a imensa alegria de servir.
Como seria triste o mundo
se tudo já estivesse feito,

se não houvesse uma roseira para plantar,
uma iniciativa para lutar!
Não te seduzam as obras fáceis.

É belo fazer tudo que os outros se recusam a executar.
Não cometas, porém, o erro
de pensar que só tem merecimento executar as grandes obras.

Há pequenos préstimos que são bons serviços:
enfeitar uma mesa.
Arrumar uns livros.
Pentear uma criança.
Aquele é quem critica,
este é quem destrói;sê tu quem serve.
Servir não é próprio dos seres inferiores:
D
eus, que nos dá fruto e luz,serve.

Poderia chamar-se: O Servidor.

E tem os Seus olhos fixos nas nossas mãos
e pergunta-nos todos os dias:
S
erviste hoje?
* * *
Gabriela Mistral, poetisa chilena, em seu belíssimo poema nos emociona com uma proposta de vida maravilhosa.

O Poeta dos poetas, certa vez também afirmou que quem desejasse ser o primeiro, fosse o servo de todos.

Servir é a receita infalível da felicidade presente e futura.

Presente, pois quem serve, quem se doa, quem ajuda, já recebe no coração a paz que tal ato propicia. Uma paz sem igual: a paz da consciência tranquila.

Futura, pois quem serve semeia concórdia, fraternidade – merecendo colher o mesmo nos passos seguintes da existência imortal do Espírito.

Todo dia nos apresenta diversas oportunidades de servir. Que possamos estar atentos a elas, e não desperdiçar nenhuma chance, nenhuma dessas experiências enriquecedoras.

Parafraseando a poetisa, perguntamos: Você já serviu hoje?
com base no poema A imensa alegria de servir, de Gabriela Mistral.

sexta-feira, junho 17, 2011

Demencia generalizada... ou teimosia desenfreada?

A esmagadora maioria dos humanos neste planeta não está a viver  plenamente as potencialidades de conhecimento de si próprio, não porque não detenha as condições necessárias e muitas vezes ideais para que isso aconteça, mas somente porque adopta repetida e mecanicamente como um "tique", qualquer um dos modelos pedagógicos que lhe habituaram a toldar o olhar com todo o tipo de condicionamentos psicológicos.

Não é o problema da humanidade a riqueza, a pobreza, a doença, a morte..., tudo isso é circunstancial.

O problema é a descaracterização humana no suicídio que cada um comete de sua espiritualidade  intrínseca e natural,  opção recorrente e informe criando monstros e patologias descontroladas como se todos estivesses cegos ou pior ainda, dementes.

quarta-feira, junho 15, 2011

Acontece o dia Amanhece

Têm os arranjos da idade biológica impondo-se, mas isso já o sabe…

Tem os ajustes celulares acontecendo o tempo inteiro, intensificando-se desde si até si…

Isso o sente… não o contrarie, especialmente agora…

Deixe guiar-se pelos eventos, como se fosse uma chispa voando….

Sob o corte de uma rebarbadeira no metal, nas mãos de um artista serralheiro.

É o tempo de se identificar com a sua vã incandescência… e em pleno voo…
 deixe-se adormecer nos braços do despertar alquimico celular de dentro de si.

Nunca sábio esforço chegou, a remar contra a maré.

Um dos mais belos trajes da alma


O médico conversa descontraído com o enfermeiro e o motorista da ambulância, quando uma senhora elegante chega, e de forma ríspida, pergunta:  

Vocês sabem onde está o médico do hospital?

Com tranquilidade, o médico responde: Boa tarde, senhora! Em que posso ser útil?

Impaciente, a mulher indaga: Será que o senhor é surdo? Não ouviu que estou procurando pelo médico?

Mantendo-se calmo, contesta ele: Senhora, o médico sou eu. Em que posso ajudá-la?

Como?! O senhor?!?! Com esta roupa?

Ah, senhora! Desculpe-me! Pensei que a senhora estivesse procurando um médico e não uma vestimenta...

Oh! Desculpe, doutor! Boa tarde! É que...vestido assim, o senhor nem parece um médico...

Veja bem as coisas como são...- diz o médico -... As vestes parecem não dizer muitas coisas mesmo... Quando a vi chegando, tão bem vestida, tão elegante, pensei que a senhora fosse sorrir educadamente para todos, e depois daria um simpatiquíssimo "Boa tarde!"

Como se vê, as roupas nem sempre dizem muito...

*   *  *

Um dos mais belos trajes da alma é, certamente, a educação.

Educação que, no exemplo em questão, significa cordialidade, polidez, trato adequado para com as pessoas.

São tantos ainda no mundo que não têm tacto algum no tratamento para com os outros!

Sofrem e fazem os outros sofrerem com isso.

Parece que vivem sempre à beira de um ataque de nervos, centrados apenas em si, em suas necessidades urgentes e mais nada.

O mundo gira ao seu redor e para lhes servir. Os outros parecem viver num mundo à parte, menos importante que o seu.

Esses tais modos vêm da infância, claro, em primeiro lugar. Dos exemplos recebidos da família em anos e anos de convivência.

Mas também precisam vir da compreensão do ser humano, entendendo todos como seus irmãos.

Não há escolhidos na face da Terra. Não há aqueles que são mais ou menos importantes. Fomos nós, em nossa pequenez de Espíritos imperfeitos, que criamos essas hierarquias absurdas, onde se chega ao cúmulo de julgar alguém pelas roupas que veste.

Quem planta sorrisos e gentileza recebe alegria e gratidão, e vê muitas portas da vida se abrindo naturalmente, através da força estupenda da bondade.

O bem é muito mais forte que o mal.

O bem responde com muito mais rapidez e segurança às tantas e tantas questões que a existência nos apresenta, na forma de desafios.

Ser gentil, ser cordial é receber a vida e as pessoas de braços abertos, sem medo de agir no bem.

Ser bem educado é contribuir com a semeadura do amor na face da Terra, substituindo, gradualmente, tantas ervas daninhas que ainda existem nesses campos, por flores e mais flores de felicidade.

Ser fraterno, em todas as ocasiões, é vestir-se com este que é um dos mais belos trajes da alma: a educação.

terça-feira, junho 14, 2011

O fim último da vida ...

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. 
 
Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê.

Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. 
 
A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de
sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. 
 
Quanto mais queremos, mais desesperamos.

A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. 
 
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"
 
O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista.