terça-feira, setembro 05, 2017

Cantando saudades...

É comum nos darmos conta do valor de quem conviveu próximo a nós, quando essa pessoa realiza a sua viagem para o Grande Além.

É como se de repente tudo o que ela representava nos assomasse à memória, numa sucessão de cenas.

É o momento em que temos, ao lado do sentimento de perda física, um misto de arrependimento por não termos usufruído um tanto mais daquela presença.

E, na medida que ouvimos comentários de outros a respeito dos benefícios realizados por aquele que se foi, da influência salutar de sua vida em outras vidas, mais aumenta esse sentimento de quem perdeu alguém muito precioso.

Alguém que nem sabíamos que nos faria tanta falta.

Possivelmente, iremos recordando e repassando uma vez, e mais outra, os momentos vividos ao seu lado, os conselhos recebidos, as histórias ouvidas.

E, ao lado do arrependimento por ter deixado passar tantas oportunidades, uma leve tristeza nos toma a alma.

Uma saudade dolorida se instala.

Talvez sentindo exactamente isso, é que aquele compositor escreveu: Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia o que é viver melhor.

Naquela mesa ele contava histórias que hoje na memória eu guardo e sei de cor.

Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã.

E nos seus olhos havia tanto brilho que mais que seu filho eu fiquei seu fã.

E descrevendo a dor da ausência, continua nos versos seguintes:

Eu não sabia que doía tanto uma mesa num canto, uma casa e um jardim.

Sim, todo lugar que olhamos, grita a ausência daquela presença que conferia um toque especial a cada recanto.

A mesa, materialmente falando, é a mesma. No entanto, falta-lhe brilho, porque o amigo, o familiar, o amado não está ali.

A casa, o jardim tudo pode continuar a ser conservado, cuidado. Mas tiveram diminuídos seus valores porque quem os abrilhantava, não mais se faz presente.

É a ausência do riso, da fala, da alegria, da voz.

Conforme o inspirado compositor: Hoje ninguém mais fala do seu bandolim...

Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim.

*   *   *

A saudade é recíproca. Quem fica a sente intensificar a cada dia. E quando pensa que não poderá doer mais, descobre que o peso daquela ausência ficou muito maior.

Por outro lado, os que partem também sentem saudades. Saudades do ninho onde foram felizes, das brincadeiras com os filhos, dos mil nadas do matrimónio, que fazem a grande diferença.

Eles, de certa forma, se ressentem, quando nos visitam, nos abraçam, nos enviam todo o seu amor em vibrações e nós não os percebemos.

Nunca será demais insistirmos em como se faz de importância, nesse mundo de transitoriedades, usufruirmos da companhia dos amores, enquanto estamos a caminho com eles.

Gravar na retina da alma os momentos de felicidade. Os primeiros passos do filho, as alegrias das festas em família, o aconchego do lar.

Pensemos nisso e não percamos essas oportunidades que enchem a alma, hoje. E, amanhã nos servirão para abrandar a imensa saudade das ausências...

com citação de versos da música Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt.

segunda-feira, setembro 04, 2017

o cair do muros

Cada uma das actividades humanas é desde sempre marcada por inúmeros preconceitos, marcas regionais, de género, de estatuto social, uma panóplia de manchas nos relacionamentos naturais entre pessoas, que lhes trouxe como que uma roupagem sobre si próprias, uma espécie de uniforme de guerra, interface ou casca, que lhes permitisse comunicar uns com os outros e simultaneamente, de forma o mais segura possível, nivelar e identificar os encontros e as respectivas actividades. 

Este proceder é fonte de praticamente todos os maus entendimentos e desavenças, pois permite actuações falsas, mal-sãs e de-simuladas, além de desentendimentos de toda a ordem.

Nos novos e actuais padrões energéticos de enorme transparência, terão de ser demolidos estes muros obtusos por força maior, ou darão origem a enorme desconforto e sofrimentos a quem neles persistir...

Nos relacionamentos entre as pessoas, nos objectivos de vida e seus gestos diários, a energia avassaladora não abrandará sua pressão pelo contrário, e não mais os velhos padrões serão suportados.

A onda criativa e crescente não permitirá mais escudos de sentimentos. As pessoas terão agora de se purificar, se lavar, antes de se apresentarem socialmente, publicamente.

Quem mais será afectado a opor-se a este processo? - As vidas falsas, não resolvidas.

ser-se um guru do amor, 
não assegura o curso de sobre amar

Deixar os olhos comunicar, 
é olhar de frente as pessoas e as coisas.

Tenho muita pena de quem não é feliz, eu sou não porque o seja mas porque o desejo ser; é uma esperança, uma fé. Isso permite ir até onde não fui, sem sair do lugar.

O mais magnifico; olhar uma pessoa, qualquer pessoa, alguém, no decurso de uma actividade qualquer, e sem receios reflectir.
No final ficar sobre essa pessoa a impressão de a achar tão bonita que se lhe deseja todo bem do mundo.
Se ela sente? - não sei não interessa.

Uma enorme sensibilidade sem abertura de espírito, de compreensão pelos outros, de nada serve. A não ser, para cerrar os cantos da boca, em prantos de solidão, a de quem deixa e a de quem deixou.