Fugir da chuva sem medo, molhado húmido em bando, éramos 4 ou 3 ou talvez mais, uma miúda? talvez … uma lá no meio sem companhia, sem outra que as fizesse aos pares para que tivessemos uma estrela.
Escondíamos as faltas ao liceu entre a mesa de madeira da tasca lá mais perto, carcomida pelos anos, húmida de vinho como nós de água. Olhares trocava-mos em perfeita marginalidade auto imposta com prazer.
Éramos diferentes, frequentávamos as tascas dos bêbados ás 2 ou 3 da tarde. Comia-se pouco pela ênfase que se dava ás sensações que as misturas alcoólicas nos causavam, ao grupo. Saíamos muitas vezes já a tarde meada, ébrios com explosões de cores dentro das ópticas, na rua tudo era cinzento mas não magoava. Assim aprendíamos a estar fora duma realidade que todos julgavam controlar. Éramos os rebeldes da altura.
Outras vezes até uma entrada de um prédio servia para nos reunirmos, consumir uma cachimbada em grupo, partilhar um sufoco de fumo entalado entre as costelas, alguém sempre dava umas palmadas, servia de acto socializante, como fazem os macacos ao catarem os piolhos em publico uns aos outros, estranha forma de mostrar cuidados.
Depois também se chegou, nesses anos de 76 a fumar na mesa do café em comprido e albino cachimbo de barro, os tremoços e a cerveja, para mais tarde abanar a bem abanar os flipers cansados de pernas tortas.
Ás vezes íamos, o grupo que se constituía por faltas ás aulas no liceu em pleno Inverno, a casa de um de nós que não tinha os pais em casa. Depois era o secar dessa humidade invernil no consumo de umas valentes cachimbadas, cada um a seu canto, a musica á volta rodeava as descobertas, as sensações, seria enfim mais tarde, como quando íamos à tasca ou à soleira de qualquer prédio, … saíamos em grupo, anestesiados para a vida cinzenta e competitiva, irracional e poluente que fazia lá fora.
Eram idas ao café do bairro, sempre com um ou dois amigos, daqueles que se ainda não se dissiparam não deixaram rasto das suas presenças senão no meu teatro intimo de uma juventude rebelde.
Eram as festas, o dançar com as primeiras calças de ganga que eram rasgadas em casa, sem que nunca ninguém ainda o tivesse visto em pleno acto social, as botas alentejanas ensebadas do talho, eram alfinetes, mais raramente um risco nos olhos, a preto como quem quer sobressair as insónias de um velho no rosto de um adolescente.
Era o namoro desenfreado à frente de todos, de todos os sítios, era sempre aquilo que ainda é sobre outras formas de expressão. Tem uma irreverência que continua, passa de geração em geração, que nenhuma virtualidade pode sumir, que ainda que adormecida será sempre a revelação de um tempo, com seus heróis, vitimas e mártires do que se inventa ou reinventa a um certo tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário