segunda-feira, setembro 09, 2013

Um jeito de escapar do inferno

Mohandas Karamchand Gandhi foi um homem fabuloso e inesquecível.
Seu conhecimento sobre as leis de Deus é digno de nosso mais profundo respeito e admiração.
Uma das mais belas passagens de sua vida é relatada com competência pelo cineasta britânico Richard Attenborough.
O filme mostra a sangrenta guerra civil que se seguiu à divisão da Índia em Paquistão muçulmano e Índia hindu.
As mortes só trouxeram retaliações e mais vítimas, até que Gandhi, líder espiritual respeitado por hindus e muçulmanos, iniciou um jejum e jurou que não comeria até que a matança terminasse, mesmo que isso significasse sua morte por inanição.
Esse foi apenas um dos muitos jejuns de Gandhi defendendo a não-violência.
Um hindu enlouquecido visitou o Mahatma e, ao chegar aos pés da cama onde estava, atirou-lhe um pedaço de pão enquanto gritava:
Eu já vou para o inferno e não quero a culpa da sua morte também em minha alma! Coma, por favor!
Gandhi, sereno como sempre, replicou:
Por que você vai para o inferno?
O hindu tremia ao responder:
Eu tinha um filho pequeno, mais ou menos deste tamanho, que foi assassinado pelos muçulmanos. Então, eu peguei a primeira criança muçulmana que consegui encontrar e a matei, arrebentando-lhe a cabeça contra uma parede.
Gandhi fechou os olhos e chorou por dentro.
Depois se recompôs, pois sabia da importância de seu papel perante aquele povo e, com esperança na voz, disse:
Eu conheço um jeito de escapar do inferno.
Muitos meninos agora estão sem os pais por causa da matança. Encontre um menino muçulmano, com mais ou menos este tamanho - repetindo o gesto feito pelo visitante há pouco – e o crie como se fosse seu. Adote-o.
O homem desorientado estava admirado com a proposta, e tentava assimilá-la da melhor forma. Uma brisa de esperança chegou-lhe ao rosto.
Porém, Gandhi não havia terminado sua fala:
Atente apenas para um detalhe: você não deve esquecer que deverá criá-lo como um muçulmano.
O hindu não estava preparado para aquela proposta. Era muito diferente de tudo que sentia, de tudo que pensava. Era uma proposta revolucionária.
Era a revolução da lei do amor, ensinada por Gandhi, de forma magistral.
O homem caiu aos pés do mestre. A loucura abandonou seus olhos, que choravam copiosamente.
Gandhi colocou as mãos na cabeça do hindu, abençoando-o do fundo de seu coração, desejando que ele pudesse aceitar seu novo caminho, o caminho para sair do inferno.
Quando o hindu saiu, ele tinha um pouco de paz no coração, e uma proposta da lei do amor em suas mãos: proposta de perdão e de autoperdão.
*   *   *
Nada como o amor, em toda sua resplandecência, para nos libertar desse estado d’alma de inferno.
Sim, já somos capazes de entender que o inferno não é um local delimitado no espaço, mas um estado d’alma temporário.
Para alguns, desorientados e reincidentes nos mesmos erros, esse estado de espírito parece uma eternidade, mas essa dita eternidade dura apenas o tempo do aprendizado, o tempo do despertar para o amor.
O amor cobre uma multidão de pecados, conforme tão bem afirmou o Apóstolo Pedro.
A lei de causa e efeito abraça-se à lei da amorosidade e ambas, interligadas sempre, carregam-nos para a tão desejada felicidade.

quinta-feira, setembro 05, 2013

Lenda da Aldeia Histórica de Castelo Novo


BELISANDRA E A PRAGA DOS GAFANHOTOS

 

Referidas até em relatos bíblicos, as pragas de gafanhotos sempre assustaram os agricultores. E segundo a tradição, em tempos idos, Castelo Novo esteve ameaçado por um praga de gafanhotos. 

Vivia próximo desta aldeia uma rapariga de seu nome Belisandra e que por causa da sua fama de bruxa vivia na mais completa solidão, tendo por companhia, unicamente, um gato. 
 
 Sempre que necessitava de ir á aldeia, a pobre Belisandra tinha de enfrentar um coro de maledicência, risinhos de troça e o desprezo de todos. 

Embora em horas de aflição, muitos a ela recorrerem-se em segredo, em publico troçavam dela como se uma maldição se tratasse. Do mesmo castigo sofrera sua mãe Lisandra e sua avó Cassandra. 
 
Nunca ninguém tinha presenciado nada que confirmasse tais historias, mas dela se dizia que controlava o sol e a chuva, que curava doenças, que ensinava a melhor maneira de fazer filhos homens, e assim por diante… 

Belisandra atendia quem a procurava mesmo sabendo que no dia seguinte todos continuariam a dizer horrores sobre ela.
 
Um belo dia estando os campos cobertos de belas searas e o povo preparando-se para colher os frutos do seu trabalho, viram surgir no céu uma espessa nuvem que quase cobriu o sol. 

A princípio ninguém percebia do que se tratava, mas aos poucos compreenderam que se avizinhava uma praga de gafanhotos. E pela primeira vez, em grupo, recorreram a Belisandra que a todos surpreendeu quando lhes disse que deveriam fazer uma Procissão à Senhora da Misericórdia porque só ela lhes podia valer. 
 
Assim fizeram e conta a lenda que ainda a procissão ia no adro já os gafanhotos caíam mortos às centenas. 

O povo prometeu fazer a procissão todos os anos e cumpriu, porque ainda hoje em Setembro a tradição se mantém. Belisandra continuou a viver a sua vida solitária, pela fama de bruxa, mas desde esse dia o povo passou a respeitá-la. 
 
Não sem que se perguntassem como podia uma mulher cristã dominar as forças da natureza…

Castelo Novo


O topónimo desta aldeia advém do facto de terem existido dois castelos, sendo este, Castelo Novo, ocupado após o abandono do Castelo Velho, por ter melhores condições de defesa. A sua construção data do século XII-XIII.
Esta denominação só surge associada à povoação por volta de 1208, no testamento de D. Pedro Guterres (Petrus Guterri) em substituição do nome anterior, onde é citado pela primeira vez, na sua doação aosTemplários apelidando-a de: "terra a que chamam Castelo Novo".
Em 1223 o nome de Castelo Novo é referenciado no foral de Lardosa. 
A ser assim caem por terra todas as afirmações que atribuem a D. Dinis a construção do Castelo. O que não parece provável é que este monarca tenha ali mandado fazer qualquer intervenção.
Ainda no século XIII, a povoação viria a ser doada à Ordem dos Templários e, posteriormente, à Ordem de Cristo, no sentido de se garantir a posse do território conquistado aos mouros.
D. Dinis atribui foral à povoação em 1290. Este monarca ordena ainda a plantação de castanheiros na povoação.
No reinado de D. Manuel I, o castelo já não estaria propriamente novo, o que o levou a assumir a sua recuperação encarregando do assunto um escudeiro da Casa Real, que se fez acompanhar de um pedreiro mestre-de-obras natural de Castela.

D. Manuel I, em 1 de Junho de 1510, concedeu a Castelo Novo o seu segundo foral.
Deste reinado ficaram na antiga vila o Pelourinho e, eventualmente, os Antigos Paços do Concelho.
Em 1527 existe uma referência ao concelho de Castelo Novo, englobando: Alpedrinha, Vale de Prazeres, Póvoa da Atalaia, Atalaia do Campo, Louriçal, Soalheira, Orca e Zebras.
Em 1557, aquando do Numeramento Joanino, Castelo Novo é vila.

No ano de 1667, a assistência a pobres e doentes é feita pela Santa Casa da Misericórdia que é comum a Castelo Novo e Alpedrinha.
A construção do Chafariz da Bica, do Chafariz de D. João V e da Igreja Matriz (1732), nos inícios do século XVIII, comprovam o desenvolvimento que esta povoação sofreu, possivelmente, com o ouro vindo do Brasil, no reinado de D. João V.
O seu castelo, edificado no século XII, sofreu grandes estragos com o terramoto de 1755.
Em 1835 Castelo Novo perdeu o seu título de concelho e foi englobado no município de Alpedrinha.
Posteriormente, em 24 de Outubro de 1855, viria a ser anexado, junto com Alpedrinha, ao concelho do Fundão.
Dos seus tempos de concelho, conserva-se o seu símbolo principal: o Pelourinho.







 
 
 
 

Senhora da Penha


Meus 50 anos decidi festejar de forma o mais possível diferente e memorável.Assim partilho esta notável experiência que muito me encantou...
 
Lenda da Penha da Senhora da Serra
 
Os vestígios arqueológicos conhecidos sugerem uma ocupação humana do território provavelmente desde o Neolítico e Calcolítico, projectando-se num crescimento de testemunhos que se referem às idades do Bronze e do Ferro, na Época Romana e no período dos Visigodos e dos Muçulmanos.
 
Numa cota de cerca 1147 metros, no alto da Serra da Gardunha, sobre a vertente norte da aldeia de Castelo Novo, situa-se uma intrusão granítica, trata-se do sítio de Nossa Senhora da Penha. As coordenadas geográficas:  40º 05' 50,86'' N. e 07 º 30' 40,44'' O .

É um sítio Magnífico, situada no cimo da serra da Gardunha, de onde se domina toda a cova da beira para norte e toda a campina a Sul. Certamente de uma enorme vantagem na Antiguidade, este ponto Granítico no cimo do monte Ocaya, assim se chamava a Serra da Gardunha na Antiguidade.

Os Montes na Antiguidade eram em alguns casos lugares Sagrados,  tendo mesmo o nome de Monte Sacro que derivou para Monsanto, na antiguidade acreditava-se que  os Montes, por  se encontrarem mais próximos do Mundo Celeste onde residiam os principais Deuses, por esta Razão encontramos os principais Templos em cotas elevadas.


O Penhasco da senhora da Penha não é exclusão, há regra terá existido ali um local Sagrado, onde os povos da idade do Bronze e do Ferro ( povos Indígenas  que ocuparam este local cultoavam as suas divindades e sendo assim divindades como Trebaruna, Reva e outras poderiam ter ali sido cultoadas pelos Lancienses Ocelenses. 
 
Em baixo surpreendeu a diferença de cor na vegetação, onde parece existir um "corredor mais seco entre vegetação. 

Lá em baixo na curva o ponto quase imperceptível, é a Honda TransAlp em que fiz a viagem de cerca de 680 kms em dois dias e portou-se sempre como quem dizia; QUERO MAIS!!!!
 
deste mesmo ponto elevado na direcção oposta
 
Lá no alto da Gardunha, no meio de um sem fim de fragas que se entranham pelo Céu a dentro, em terras do Souto a dar para Castelo Novo, por baixo de um dos múltiplos penhascos, aparece a gruta da Capela da Senhora da Serra.

Local aprazível, onde o horizonte termina bem longe, e o domínio visual sobre a Gardunha é soberbo. O imaginário, o misterioso, a fantasia, o oculto, a surpresa, a dúvida o conto e a lenda têm todos lugar aqui, – no Sítio da Penha.

Vamos apenas falar do que sabemos. E mesmo isso, referimo–lo porque no–lo contaram!

A Penha, toda ela se encontra situada nos limites da Freguesia do Souto da Casa. Logicamente e por consequência daquela afirmação, a gruta que durante muitos anos albergou a Capela da Senhora da Serra, encontra–se completamente dentro daqueles mesmos limites.

Importa ainda referir para uma melhor compreensão daquilo que pretendemos transmitir,que a delimitação da nossa Freguesia com a de Castelo Novo é "por águas vertentes".

Consta que: A disputa da posse da Capela e da Imagem da Senhora da Serra, foi uma constante durante muitos anos, criando uma rivalidade temerária entre os dois povos vizinhos. De tal ordem se criaram situações extremas, que a população de Castelo Novo cuja povoação se encontra bem mais perto da Penha que a do Souto da Casa, chegou a "roubar" a imagem da Capela e instala–la na sua Igreja Matriz.

«Porque a Senhora não queria nada com o Povo de Castelo Novo», regressou pouco tempo de pois à sua "moradia" original: – à Capelinha, na Penha.

Não satisfeitos com tal situação e desconfiados que tivessem sido os seus vizinhos a levar a Imagem de volta à Penha, os de Castelo Novo voltaram a traze–la para a sua Aldeia.

Dias depois (poucos, naturalmente!), meia dúzia de homens destemidos e corajosos do Souto da Casa, pela calada da noite, resolveram fazer a vontade à Senhora e carregando–a ao colo, levaram–na de regresso à Sua verdadeira Casa.

Novamente o orgulho, a força do desafio e o sentimento da rivalidade soou mais alto e os homens de castelo Novo tornaram à Penha para levar consigo a Imagem da Santa que tanto desejavam como sua. Só que desta vez, «a Senhora chorou». 

E «fê–lo porque não queria mais ser roubada por ninguém. – também, porque não era Seu desejo ir novamente para Castelo Novo»

Os de Castelo Novo, temeram aquelas lágrimas mas jamais iriam prescindir de uma preciosidade a que se julgavam com direito.

Os dos Souto da Casa, cumprindo com o desejo da Santa, não mais voltaram a resgatá–La. Preferiram antes, sair prejudicados no seu orgulho e nos seus sentimentos, que voltar a sentir lágrimas no rosto da Santa.


Por tudo isto, ainda hoje, a Imagem da Senhora da Serra continua em Castelo Novo e a Sua Antiga Capela no alto da Serra, – no sítio da Penha, continua vazia e sem qualquer utilidade.
 
outra versão-«...uma mulher de Alcongosta ter ido à lenha para a serra,fazendo-se acompanhar pela sua filha de tenra idade, esta ali se perdeu, sem que fosse possível descobri-la, apesar das diligencias feitas. Voltou a mãe ao seu povo muito melancólica por este acontecimento e foi com os seus vizinhos novamente procurar a menina perdida, aonde só a puderam achar ao fim de 3 ou 4 dias dentro da Gruta de nossa senhora da Serra! 

Tendo ficado estupefactos, quando encontraram a menina viva, pois já todos a supunham morta.

Achando-a dentro da Caverna formada entre dois rochedos; mas qual seria a sua admiração quando fitaram os olhos numa perfeitíssima imagem da Senhora da Serra (...), e mais admirados ficaram quando a menina lhes disse: - que a senhora lhe havia dado de comer, alimentando-a por todo o espaço de tempo, através de uma campainha!

Este milagre foi divulgado pela região e fizeram-se romarias á senhora da Serra. (...), sendo parte da despesa abonada por El-Rei  o senhor D. João V, datada de Maio de 1731:

"poderão os vereadores gastar um jantar, na festividade que costuma fazer-se a nossa senhora da serra, por voto muito antigo do povo".» (CARDOSO,J. I.; 2005)

 
estas rochas em cimo da Serra mais pareciam cortadas como muralhas, da forma em alguns locais que entretanto explorei enquanto houve luz, estavam talhadas em linhas espantosamente rectas.
 
 
parece uma imagem gravada nesta espécie de recipiente natural...
 

 
O facto de aparecer uma imagem em Pedra muito 
antiga, que aparece como explicação de
uma imagem de nossa senhora em Pedra, trazida 
pelos Godos quando em 711 fugiram
aos Muçulmanos e tendo-se refugiado na Gardunha os habitantes da Idanha. 

Certo que Guarda de unha, significa refugio e o nome actual de Gardunha poderá derivar destas duas palavras.

podemos pensar ainda que a senhora da serra, que já não existe, uma vez que se partiu numa das procissões e terá mandado fazer uma réplica em Coimbra, réplica esta que se encontra em Castelo Novo.

Não é de excluir a hipótese de esta imagem ser uma Deusa Pagã em Pedra e ao ter sido compreendido tal facto pelo Bispo da Guarda e aproveitando-se dos factos dos desentendimentos entre povoações, terá resolvido mandar destruir o sitio de culto, não seria caso único esta situação, a população pensou ter caído no local um raio que destruiu a Capela.

Se pegarmos nos textos de Estrabão Geo III  sobre os 

Lusitanos «..que viviam em Castros, sacrificavam os 

prisioneiros atirando-os das montanhas e abriam-lhes as 

entranhas para adivinharem o futuro...» 

( ESTRABÃO: geo III) É evidente que só uma intervenção 

arqueológica profunda um dia poderá  esclarecer 

estas duvidas.
 
 
A LENDA DA GARDUNHA
No tempo em que vieram os Mouros, com muitas guerras, havia na povoação de Idanha-a-Velha um homem viúvo e rico que se casou com uma mulher muito mais nova que ele.

Esse homem tinha uma filha da primeira mulher, ainda pequena e muito linda, que a madrasta não tratava lá muito bem, ralhando-lhe por tudo e por nada.

A menina tinha um cão, que era seu grande amigo e a acompanhava para todos os lados.

A madrasta maltratava o cão, para fazer zangar a menina que era sua enteada. A menina chorava agarrada ao cão.

Um dia, a madrasta bateu com um pau no cão e a menina refilou com ela. Em resposta, levou duas lambadas da madrasta, que ainda lhe disse que, se dissesse alguma coisa ao pai, que a matava. A ela e ao cão.

A menina mais se pôs a chorar. Agarrou-se ao seu amigo cão e disse-lhe que iam os dois fugir de casa. Às escondidas, arranjou uma merenda com pão, queijo e chouriça, pôs um xaile pelos ombros e correram para fora da povoação. Avistando uma serra ao longe, a menina disse para o cão:
Farrusco, vamos para aquela serra, que nós lá nos arranjamos!

O cão sacudiu as orelhas, deu dois pinotes e arrumou-se às pernas da amiga.

Lançaram-se, então, pelos caminhos na direcção da serra, que se alevantava ao longe. Caminharam, caminharam, por veredas e caminhos. Quando chegaram aos altos da serra, já estava o dia quase a acabar. Andando mais um pouco, pelo cimo, a menina viu uns grandes penedos, onde encontrou uma grande lapa. O cão entrou na lapa e voltou a abanar o rabo. Com medo, a menina entrou logo na lapa, com o amigo cão. Sentaram-se e comeram a merenda. 

Já pelo escuro, a menina e o cão aconchegaram-se no xaile para passarem a noite. A menina estava afoita, porque tinha o cão que a guardava. Lá adormeceram.

Já com a claridade da manhã a entrar na lapa, a menina sentiu que alguém lhe batia no ombro. Levantou-se, olhou em volta, mas apenas vislumbrava alguma claridade. Ao lado, o cão pulava.

Os ares tornaram-se mais claros e no fundo da lapa apareceu um grande brilho. De lá, saiu uma Senhora muito linda, vestida de branco e a sorrir.

A menina e o cão ficaram parados a olhar para a Senhora.

Então, a Senhora, com uma voz que parecia vir dos altos, disse:
- Menina! Tens de ir à tua terra, para levares um recado.

A menina arrepiou-se e perguntou à Senhora:
- Quem é vossemecê?

A Senhora, rindo-se, disse-lhe:
- Eu sou a Nossa Senhora! Vim do Céu para te ajudar, a tia e ao povo da tua terra!

A menina ficou muito atrapalhada, a olhar a Senhora.
A Senhora caminhou para junto da menina, pôs-lhe a mão no ombro e disse-lhe:
- Vai a correr à tua terra e diz ao teu pai e a todo o povo que fujam para aqui, porque os Mouros já vêm perto, para matarem tudo. Aqui, podem muito bem defender-se, para se salvarem.

A menina e o amigo cão correram logo pela serra abaixo. O cão à frente, porque conhecia melhor o caminho.

Logo que chegou à Idanha, a menina contou ao pai o que tinha acontecido. Que a Nossa Senhora lhe apareceu e que lha disse para fugirem da Idanha.

O pai não acreditou e disse à filha que ela devia estar doente ou a sonhar.

A menina continuou a dizer ao pai que tudo era verdade. Que a Senhora lhe disse que veio do Céu para os avisar e lhes acudir. Que fugissem todos para a serra, porque os Mouros já estavam perto da Idanha.

A notícia correu logo pelas ruas e pelos campos. O povo, cumprindo o que a Senhora dissera à menina, logo fugiu e foi acoitar-se pelos penedos e pelas lapas da serra, esperando o que viesse, bom ou mau.

Quando os Mouros chegaram, já ninguém estava na Idanha. Só encontraram as casas vazias. Correram para a serra, procurando os da Idanha, mas foram derrotados pelo povo que fugiu. Nas alturas da serra, estavam em posições vantajosas e ainda, por cima, protegidos pela Nossa Senhora.

O povo da Idanha, que fugira para a serra, por ter sido avisado pela Nossa Senhora, começou a chamar Gardunha à serra, o que queria dizer: Guardou os da Idanha.

O povo da Idanha-a-Velha, refugiado na serra, logo transformou a lapa, onde aconteceu a aparição, numa capela e nela colocou uma imagem da Senhora, à qual passou a chamar Nossa Senhora da Serra e a adorá-la pelo milagre que fez.


Narrada por Laura Saraiva, natural de Castelo Novo, 97 anos, 1987, Alcaide.
 
 



 a pedra da meditação lá longe


o testemunho - a direcção





a passagem





































o falo
a noite...



... e muitas mais fotos haveria para partilhar, 
não há mesmo como deixar de lá ir...

Eu... certamente irei voltar!

terça-feira, setembro 03, 2013

Mantendo a alegria de viver

Eles sobreviveram a duas guerras mundiais. Assistiram aos cenários de mais de uma revolução. Ouviram as notícias da construção do muro de Berlim e assistiram à sua derrubada.

Tiveram as noites da infância iluminadas por velas e lampiões e aderiram, de forma rápida, à invenção de Thomas Alva Edison.

Viram os tostões darem lugar a uma nova moeda, que modificou sua denominação e seu valor várias vezes.

Viajaram em lombo de mulas, carroças, carruagens e se surpreenderam com o Ford Bigode de Henry Ford.

Lembram de Yuri Gagarin, o russo solitário no espaço, e da emoção da chegada do homem à lua.

Do radinho simples, que era o elo de comunicação com o mundo, receberam a televisão como a grande novidade e, ao mesmo tempo, uma companhia para as horas solitárias.

Das rodas de amigos, em torno do mate, do chimarrão, do café da tarde ou do chá das cinco, migraram para o teclado do computador, até horas mortas da madrugada.

Alguns os vêem como quem já viveu tudo e nada mais aguardam. Contudo, essas pessoas que trazem o rosto coberto de rugas, que são depositárias da história e têm muitos casos para contar, são uma lição viva de alegria de viver.

Eles mantêm a vontade de sorrir, acreditando que o bom humor faz bem para o corpo e para a alma. Encaram a vida de frente e enfrentam os problemas que surgem.

Desejam viver, embora alguns já tenham ultrapassado o centenário. Num mundo onde a juventude é sinónimo de beleza, eles trazem brilho no olhar.

As rugas, que tecem arabescos no rosto, são as marcas de uma vida bem vivida. Cada uma delas conta uma história de dor, de alegria, de superação.

Uma história de quem sofreu o devastar dos ventos da adversidade, mas soube se reerguer depois da tormenta.

História de quem esteve inúmeras vezes nos aeroportos da vida, recebendo novas gerações e despedindo-se de amores, de amigos, de companheiros de jornada.
Partidas e chegadas. E foram tantas...

Uns se apresentam com a memória mais ágil que outros. Alguns são portadores de certas limitações físicas. De um modo geral, apresentam dores nas articulações ou problemas de audição, de visão.

Mas não permitem que se instale a depressão em seu estado de espírito. Agasalham entusiasmo pela vida.

E tecem planos para os dias futuros.

O pai do conhecido maestro João Carlos Martins iniciou sua vida como escritor aos oitenta e seis anos.

Legou à posteridade sete livros. O último livro que escreveu, aos cento e um anos, causou tal impacto que o Guinness book o registou na condição de escritor que iniciou a carreira com a idade mais avançada.

Desencarnou aos cento e dois anos.

*   *   *

Esses idosos de sorriso aberto, de esperanças ainda em flor, nos são exemplos.

Esses idosos que não se permitem ao "status" pelas décadas acumuladas nos ombros, nos dizem que somente é infeliz quem maldiz a própria idade e a culpa por todos os seus fracassos.

Eles nos dizem que a vida é um bem extraordinário e deve ser vivida em toda sua essência e substância. Deve ser sorvida, até a última gota, até o último amanhecer...


Pensemos nisso.