Meus 50 anos decidi festejar de forma o mais possível diferente e memorável.Assim partilho esta notável experiência que muito me encantou...
Lenda da Penha da Senhora da Serra
Os vestígios arqueológicos conhecidos sugerem uma ocupação
humana do território provavelmente desde o Neolítico e Calcolítico,
projectando-se num crescimento de testemunhos que se referem às idades do
Bronze e do Ferro, na Época Romana e no período dos Visigodos e dos Muçulmanos.
Numa cota de cerca 1147 metros , no alto da
Serra da Gardunha, sobre a vertente norte da aldeia de Castelo Novo, situa-se uma intrusão granítica, trata-se do sítio de Nossa Senhora
da Penha. As coordenadas geográficas: 40º 05' 50,86'' N. e 07 º 30' 40,44''
O .
É um sítio Magnífico, situada no cimo da serra da Gardunha,
de onde se domina toda a cova da beira para norte e toda a campina a Sul.
Certamente de uma enorme vantagem na Antiguidade, este ponto Granítico no cimo
do monte Ocaya, assim se chamava a Serra da Gardunha na Antiguidade.
Os Montes na Antiguidade eram em alguns casos lugares
Sagrados, tendo mesmo o nome de Monte Sacro que derivou para Monsanto, na
antiguidade acreditava-se que os Montes, por se encontrarem mais
próximos do Mundo Celeste onde residiam os principais Deuses, por esta Razão
encontramos os principais Templos em cotas elevadas.
O Penhasco da senhora da Penha não é exclusão, há regra terá
existido ali um local Sagrado, onde os povos da idade do Bronze e do Ferro (
povos Indígenas que ocuparam este local cultoavam as suas divindades e sendo
assim divindades como Trebaruna, Reva e outras poderiam ter ali sido cultoadas
pelos Lancienses Ocelenses.
Em baixo surpreendeu a diferença de cor na vegetação, onde parece existir um "corredor mais seco entre vegetação.
Lá em baixo na curva o ponto quase imperceptível, é a Honda TransAlp em que fiz a viagem de cerca de 680 kms em dois dias e portou-se sempre como quem dizia; QUERO MAIS!!!!
Lá no alto da Gardunha, no meio de um sem fim de fragas que
se entranham pelo Céu a dentro, em terras do Souto a dar para Castelo Novo, por
baixo de um dos múltiplos penhascos, aparece a gruta da Capela da Senhora da
Serra.
Local aprazível, onde o horizonte termina bem longe, e o
domínio visual sobre a Gardunha é soberbo. O imaginário, o misterioso, a fantasia, o oculto, a
surpresa, a dúvida o conto e a lenda têm todos lugar aqui, – no Sítio da Penha.
Vamos apenas falar do que sabemos. E mesmo isso, referimo–lo
porque no–lo contaram!
A Penha, toda ela se encontra situada nos limites da
Freguesia do Souto da Casa. Logicamente e por consequência daquela afirmação, a
gruta que durante muitos anos albergou a Capela da Senhora da Serra, encontra–se
completamente dentro daqueles mesmos limites.
Importa ainda referir para uma melhor compreensão daquilo
que pretendemos transmitir,que a delimitação da nossa Freguesia com a de
Castelo Novo é "por águas vertentes".
Consta que: A disputa da posse da Capela e da Imagem da Senhora da
Serra, foi uma constante durante muitos anos, criando uma rivalidade temerária
entre os dois povos vizinhos. De tal ordem se criaram situações extremas, que a população
de Castelo Novo cuja povoação se encontra bem mais perto da Penha que a do
Souto da Casa, chegou a "roubar" a imagem da Capela e instala–la na
sua Igreja Matriz.
«Porque a Senhora não queria nada com o Povo de Castelo
Novo», regressou pouco tempo de pois à sua "moradia" original: – à
Capelinha, na Penha.
Não satisfeitos com tal situação e desconfiados que tivessem
sido os seus vizinhos a levar a Imagem de volta à Penha, os de Castelo Novo
voltaram a traze–la para a sua Aldeia.
Dias depois (poucos, naturalmente!), meia dúzia de homens
destemidos e corajosos do Souto da Casa, pela calada da noite, resolveram fazer
a vontade à Senhora e carregando–a ao colo, levaram–na de regresso à Sua
verdadeira Casa.
Novamente o orgulho, a força do desafio e o sentimento da
rivalidade soou mais alto e os homens de castelo Novo tornaram à Penha para
levar consigo a Imagem da Santa que tanto desejavam como sua. Só que desta vez,
«a Senhora chorou».
E «fê–lo porque não queria mais ser roubada por ninguém. –
também, porque não era Seu desejo ir novamente para Castelo Novo»
Os de Castelo Novo, temeram aquelas lágrimas mas jamais
iriam prescindir de uma preciosidade a que se julgavam com direito.
Os dos Souto da Casa, cumprindo com o desejo da Santa, não
mais voltaram a resgatá–La. Preferiram antes, sair prejudicados no seu orgulho
e nos seus sentimentos, que voltar a sentir lágrimas no rosto da Santa.
Por tudo isto, ainda hoje, a Imagem da Senhora da Serra
continua em Castelo Novo
e a Sua Antiga Capela no alto da Serra, – no sítio da Penha, continua vazia e
sem qualquer utilidade.
outra versão-«...uma mulher de Alcongosta ter ido à lenha para a serra,fazendo-se acompanhar pela sua filha de tenra idade, esta ali se perdeu, sem que fosse possível descobri-la, apesar das diligencias feitas. Voltou a mãe ao seu povo muito melancólica por este acontecimento e foi com os seus vizinhos novamente procurar a menina perdida, aonde só a puderam achar ao fim de 3 ou 4 dias dentro da Gruta de nossa senhora da Serra!
Tendo ficado estupefactos, quando encontraram a menina viva, pois já todos a supunham morta.
Achando-a dentro da Caverna formada entre dois rochedos; mas qual seria a sua admiração quando fitaram os olhos numa perfeitíssima imagem da Senhora da Serra (...), e mais admirados ficaram quando a menina lhes disse: - que a senhora lhe havia dado de comer, alimentando-a por todo o espaço de tempo, através de uma campainha!
Este milagre foi divulgado pela região e fizeram-se romarias á senhora da Serra. (...), sendo parte da despesa abonada por El-Rei o senhor D. João V, datada de Maio de 1731:
"poderão os vereadores gastar um jantar, na festividade que costuma fazer-se a nossa senhora da serra, por voto muito antigo do povo".» (CARDOSO,J. I.; 2005)
estas rochas em cimo da Serra mais pareciam cortadas como muralhas, da forma em alguns locais que entretanto explorei enquanto houve luz, estavam talhadas em linhas espantosamente rectas.
O facto de aparecer uma imagem em Pedra muito
antiga, que aparece como explicação de
uma imagem de nossa senhora em Pedra, trazida
pelos Godos quando em 711 fugiram
aos Muçulmanos e tendo-se refugiado na Gardunha os habitantes da Idanha.
Certo que Guarda de unha, significa refugio e o nome actual de Gardunha poderá derivar destas duas palavras.
podemos pensar ainda que a senhora da serra, que já não existe, uma vez que se partiu numa das procissões e terá mandado fazer uma réplica em Coimbra, réplica esta que se encontra em Castelo Novo.
Não é de excluir a hipótese de esta imagem ser uma Deusa Pagã em Pedra e ao ter sido compreendido tal facto pelo Bispo da Guarda e aproveitando-se dos factos dos desentendimentos entre povoações, terá resolvido mandar destruir o sitio de culto, não seria caso único esta situação, a população pensou ter caído no local um raio que destruiu a Capela.
Se pegarmos nos textos de Estrabão Geo III sobre os
Lusitanos «..que viviam em Castros, sacrificavam os
prisioneiros atirando-os das montanhas e abriam-lhes as
entranhas para adivinharem o futuro...»
( ESTRABÃO: geo III) É evidente que só uma intervenção
arqueológica profunda um dia poderá esclarecer
estas duvidas.
A LENDA DA GARDUNHA
No tempo em que vieram os Mouros, com muitas guerras, havia
na povoação de Idanha-a-Velha um homem
viúvo e rico que se casou com uma mulher muito mais nova que ele.
Esse homem tinha uma filha da primeira mulher, ainda pequena
e muito linda, que a madrasta não tratava lá muito bem, ralhando-lhe por tudo e
por nada.
A menina tinha um cão, que era seu grande amigo e a
acompanhava para todos os lados.
A madrasta maltratava o cão, para fazer zangar a menina que
era sua enteada. A menina chorava agarrada ao cão.
Um dia, a madrasta bateu com um pau no cão e a menina
refilou com ela. Em resposta, levou duas lambadas da madrasta, que ainda lhe
disse que, se dissesse alguma coisa ao pai, que a matava. A ela e ao cão.
A menina mais se pôs a chorar. Agarrou-se ao seu amigo cão e
disse-lhe que iam os dois fugir de casa. Às escondidas, arranjou uma merenda
com pão, queijo e chouriça, pôs um xaile pelos ombros e correram para fora da
povoação. Avistando uma serra ao longe, a menina disse para o cão:
Farrusco, vamos para aquela serra, que nós lá nos arranjamos!
O cão sacudiu as orelhas, deu dois pinotes e arrumou-se às
pernas da amiga.
Lançaram-se, então, pelos caminhos na direcção da serra, que
se alevantava ao longe. Caminharam, caminharam, por veredas e caminhos. Quando
chegaram aos altos da serra, já estava o dia quase a acabar. Andando mais um
pouco, pelo cimo, a menina viu uns grandes penedos, onde encontrou uma grande
lapa. O cão entrou
na lapa e voltou a abanar o rabo. Com medo, a menina entrou logo na lapa, com o
amigo cão. Sentaram-se e comeram a merenda.
Já pelo escuro, a menina e o cão
aconchegaram-se no xaile para passarem a noite. A menina estava afoita, porque
tinha o cão que a guardava. Lá adormeceram.
Já com a claridade da manhã a entrar na lapa, a menina
sentiu que alguém lhe batia no ombro. Levantou-se, olhou em volta, mas apenas
vislumbrava alguma claridade. Ao lado, o cão pulava.
Os ares tornaram-se mais claros e no fundo da lapa apareceu
um grande brilho. De lá, saiu uma Senhora muito linda, vestida de branco e a
sorrir.
A menina e o cão ficaram parados a olhar para a Senhora.
Então, a Senhora, com uma voz que parecia vir dos altos,
disse:
- Menina! Tens de ir à tua terra, para levares um recado.
A menina arrepiou-se e perguntou à Senhora:
- Quem é vossemecê?
A Senhora, rindo-se, disse-lhe:
- Eu sou a Nossa Senhora! Vim do Céu para te ajudar, a tia e
ao povo da tua terra!
A menina ficou muito atrapalhada, a olhar a Senhora.
A Senhora caminhou para junto da menina, pôs-lhe a mão no
ombro e disse-lhe:
- Vai a correr à tua terra e diz ao teu pai e a todo o povo
que fujam para aqui, porque os Mouros já vêm perto, para matarem tudo. Aqui,
podem muito bem defender-se, para se salvarem.
A menina e o amigo cão correram logo pela serra abaixo. O
cão à frente, porque conhecia melhor o caminho.
Logo que chegou à Idanha, a menina contou ao pai o que tinha
acontecido. Que a Nossa Senhora lhe apareceu e que lha disse para fugirem da
Idanha.
O pai não acreditou e disse à filha que ela devia estar
doente ou a sonhar.
A menina continuou a dizer ao pai que tudo era verdade. Que
a Senhora lhe disse que veio do Céu para os avisar e lhes acudir. Que fugissem
todos para a serra, porque os Mouros já estavam perto da Idanha.
A notícia correu logo pelas ruas e pelos campos. O povo,
cumprindo o que a Senhora dissera à menina, logo fugiu e foi acoitar-se pelos
penedos e pelas lapas da serra, esperando o que viesse, bom ou mau.
Quando os Mouros chegaram, já ninguém estava na Idanha. Só
encontraram as casas vazias. Correram para a serra, procurando os da Idanha, mas
foram derrotados pelo povo que fugiu. Nas alturas da serra, estavam em posições
vantajosas e ainda, por cima, protegidos pela Nossa Senhora.
O povo da Idanha, que fugira para a serra, por ter sido
avisado pela Nossa Senhora, começou a chamar Gardunha à serra, o que queria
dizer: Guardou os da Idanha.
O povo da Idanha-a-Velha, refugiado na serra, logo
transformou a lapa, onde aconteceu a aparição, numa capela e nela colocou uma
imagem da Senhora, à qual passou a chamar Nossa Senhora da Serra e a
adorá-la pelo milagre que fez.
Narrada por Laura Saraiva, natural de Castelo Novo, 97 anos,
1987, Alcaide.
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