quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Diálogos de Amor


"Paro, escuto...reflicto. O coração bate enquanto as velas ardem...o conflito entre a anestesia da vida e da alma enquanto viva faz parte do poder temporal de um coração recheado de mistérios.
Há que saber escutar...
Há que saber sentir... Há que saber esperar!"
(IMAFA)


Receber este maravilhoso texto, conduziu à partilha do seguinte tema:

Proponho meditar sob dois cenários possíveis para uma mesma situação. Uma pessoa que pode ser qualquer um de nós, sujeita a uma observação e suas etapas que se desenvolvem a partir de uma mesma origem.
Só a dinâmica do desenrolar através destas etapas é que irá em última instancia, conduzir a diferentes destinos.

Proponho a visualização desta pessoa desde tenra idade.
Os primeiros anos, na infância sua experiência com o mundo ao seu redor é sobremaneira física, material. A sua aprendizagem está condicionada aos estímulos dos sentidos localizados mais à flor da pele, o tacto, o olfacto, o som, o olhar. Suas primeiras relações pessoais são as de maior proximidade física e de afecto; os pais, familiares, vizinhos e até os amigos. É assim através destas interacções, que timidamente se inicia a construção do que constituirá o seu primeiro campo psico-emocional. Este campo emocional está para a pessoa como as traves mestras estão, para a construção de um edifício. De uma forma natural, são os primeiros estímulos a revelar a base que norteará a pessoa em suas futuras interacções com o mundo. Sob o manto da infância e de sua característica inocência, a pessoa mais se foca em receber que em conjecturar acerca do que recebe.

Na adolescência, a pessoa normalmente inicia nova etapa.

Motivada por recursos psicológicos em expansão, também por não estar deveras formatada com nenhum tipo de educação em especial, a pessoa começa a tentar conciliar uma rede de identificação entre as várias experiências a que é submetida. Sujeita a uma torrente cada vez maior de experiências e cada vez mais intensas, no sentido de as tentar organizar dentro de si, procura elementos comuns naturais a todas as experiências. Afinal uma forma natural e espontânea de ordenar um certo caos que tende a instalar-se tanto pela multiplicidade das experiências como dos intervenientes. A um certo nível é também a procura de simplificar, estabelecer um elemento comum, facilitador entre tudo o que acontece à pessoa.
Nesta altura surgem perante as óbvias dificuldades em harmonizar situações por vezes tão complexas e díspares, as primeiras questões. Sobretudo na adolescência, surgem na pessoa os primeiros contactos íntimos consigo própria e consequentemente os primeiros confrontos interiores entre os seus resultados e a necessidade de sua compreensão.

Nesta altura a pessoa inicia um trajecto em que passa a viver gradualmente mais intensamente os seus relacionamentos interiormente. Surge nesta altura a característica irreverência dos jovens, a rebeldia e em casos extremos, a revolta. Por esta altura a pessoa, de um campo de batalha entre os estímulos que lhe chegam do exterior e do resultado da sua actividade interna, resultam em parcelas cada vez maiores, questões, dúvidas, algumas delas muito importantes no sentido de orientar a pessoa para o desenvolvimento da sua psico-esfera emocional e consequentemente comportamental.

Cenário 1: a pessoa passa desta etapa para a idade adulta, desenvolvendo-se mais orientada para os estímulos que chegam do exterior. Todas as experiências e os intervenientes do seu meio ambiente ainda agem estimulando que assim seja, até por questões culturais.
Muitas das questões características da adolescência, do tipo - porque é que és meu pai e não outro? Porque é que nasci nesta família e não noutra? Porque é que sou assim, sinto desta forma e não doutra, como por exemplo aquela pessoa?, ficam sem abordagem e resposta. Sem estímulo de conversação. Pelo contrário a cada dúvida que surge, a pessoa “esbarra” com um estímulo em sentido contrário, mais banalmente todo o género de estereótipo, seja ao nível pessoal, ao nível religioso, a todo o tipo de nível. A resolução para toda a questão sensível e sem resposta pronta, é substituída por algum tipo de estímulo compensação contrária, mais do tipo plausível, verificável.

Gradualmente a pessoa é inserida numa dinâmica em que se despe pela sua tendência de simplificar a linguagem, de todo conteúdo de difícil resposta. Passa a graduar-se mais pelo nível dos estímulos externos e materialistas, e consequentemente a esvaziar-se das questões complicadas que são substituídas pelas respostas fáceis, mais plausíveis. Passa inclusive a deixar de colocar questões para simplesmente se aperfeiçoar na navegação orientada por estímulos exclusivamente visíveis, muito identificáveis com os processos presentes em dinâmicas onde impera a competição.
Ironicamente dá-se uma espécie de retorno ao modo de operar que a pessoa utilizou na infância. O adulto cristaliza-se a pouco e pouco nos sentidos “tácteis”.

Este comportamento que ainda é preponderante neste mundo junto da humanidade, é causa de inúmeras patologias graves, de milhares de lares desfeitos, de famílias de costas voltadas competindo ferozmente pelo mesmo espaço. De solidão e desespero, de um sem número de suicídios, de dependências de todo tipo, de todo o tipo de subversão, corrupção, ingerência, etc.

Cenário 2: a pessoa entra na fase mais agitada de seu desenvolvimento, onde como já vimos as questões afloram abruptamente, questões ao nível dos afectos, das emoções, das relações e do próprio corpo em erupção, quando a cada uma das suas dúvidas são colocados desafios ainda maiores.
Neste cenário, quando possível é explicado à pessoa porque é que sente como sente, quando não é possível porque nem tudo pode ser explicado retoricamente mas vivenciado, é pelo menos pelo exemplo, demonstrado qual o posicionamento correcto para que a percepção de uma possível resposta possa emergir. A pessoa entretanto tem acesso a um meio ambiente equilibrado. Na falta de respostas fáceis, encontra pelo menos uma disponibilidade para a partilha genuína das questões, não se sentindo inibida ou coibida em exteriorizar os seus sentimentos. Resumindo, encontra um terreno favorável em seu redor entre aqueles que são as suas principais referências, para exteriorizar seus abundantes sentimentos, que emergem em complexidade e número. A pessoa sentirá encorajamento para confrontar estímulos e referências externas, com o seu mundo interior, para de uma forma natural se organize interiormente. A pessoa sem intenção e de forma natural meditará mais, terá necessidade de alargar seus períodos de reflexão e tenderá a usar dos estímulos externos para condimento do que será o seu prato principal, preparado lá no seio de si mesma. Esta pessoa exercitará uma noção de tempo mais identificada com o seu biorritmo, com a sua digestão por assim dizer. Mais auto-confiante, descontraída e simultaneamente mais natural, na falta de obter respostas que considera importantes através de um contacto humano directo, estará receptiva a procurar sob diferentes formas, com elevada tendência para todas as formas de arte, seja a literatura, a música, o teatro etc.

Esta pessoa desenvolve um autoconhecimento elevado, é positiva e benéfica para o ambiente. Onde se encontre, as dificuldades são vistas como oportunidades de aprendizagem e não como fatalidades. Tem uma acertada noção de intervenção respeitando de forma pacífica, as conversações e o estabelecimento de acordos. É amante da beleza natural, não se detém mais que o indispensável no sensualismo. Aprecia o que lhe é benéfico, mas não despreza a dificuldade por lhe reconhecer a oportunidade. Valoriza o bom uso do seu corpo e mente, e está em perfeito controle de seu trajecto, fluindo e adaptando-se às circunstâncias, sem se vangloriar, sem competir e sem perder sua genuinidade. Seu envolvimento natural em todas as questões da existência, fazem desta pessoa uma pró-activista do desenvolvimento sustentado de todo tipo de manifestação conhecido, à face deste planeta. È uma pessoa integradora, integral, cuida do que serve de seu alimento, cuida do que serve de seu plano, cuida de seus relacionamentos com verdade, alinha-se pela sua natureza, o seu intimo aliado. É interveniente, e se tiver que se opor não o faz cegamente, mas olhando o opositor nos olhos e muitas vezes com um sorriso de conciliação. Uma pessoa que em adulta, já algo madura, se dá conta de estar a receber a todo o instante, através de expressões artísticas, das formas mais inusitadas, imensas respostas a questões que havia colocado em jovem e que já havia esquecido. Uma pessoa que pela sua dinâmica de constante descoberta, a monotonia não existe, a rotina não limita, as paredes não contém. Uma pessoa que se ergue de manhã cedo já emitindo pensamentos de gratidão, pelo plano que permite a sua própria revelação. Alguém que sorri com o coração. Que ama com o coração. O alquimista de seu coração. O explorador de sua vastíssima experiência. O aprendiz sem medo. A ascensão.

2 comentários:

  1. Cada Um tem o seu tempo
    Para as escolhas da vida
    Se a Uns, o Sol cega,
    A outros ilumina

    Se dando o seu melhor
    Um não consegue subir
    Serve de catapulta
    Para o Outro ascender

    Quem dá mais?
    Quem dá menos?
    O cego,que se faz pavio,
    Ou o que se tornou candeia?

    “Por fim explicava-nos que uma família é exactamente como o feixe de pauzinhos.
    Apesar de frágeis, quando unidos desenvolvem uma resistência extraordinária…”

    Arco Senda, Aprendiz sem medo.

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  2. Magnifica tese sem esquecer o comentário :-)

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