Nas imagens televisivas, nenhuma mostrou
pessoas a lamentar-se, gritar e reclamar que haviam perdido tudo. A
tristeza por si só já bastava.
E nas filas para água e comida, nenhuma palavra dura e nenhum gesto de desagravo.Somente disciplina.
Nenhuma
corrida desenfreada aos mercados. As pessoas compravam somente o que
realmente necessitavam no momento. Assim todos poderiam comprar alguma
coisa.
Não se teve notícias de saques a lojas. Nas estradas, nada de buzinanço. Apenas compreensão.
Os
restaurantes cortaram pela metade os preços. Caixas electrónicas foram
deixadas sem qualquer tipo de vigilância. Os fortes cuidavam dos fracos.
Velhos e jovens, todos sabiam o que fazer e fizeram exactamente o que lhes fora ensinado.
Quando a energia acabava numa loja, as pessoas recolocavam as mercadorias nas prateleiras e saíam calmamente.
Mas, com certeza, um dos relatos mais impressionantes é o de um
imigrante vietnamita. Como policia, foi enviado para uma escola infantil
para ajudar uma organização de caridade a distribuir comida aos
refugiados.
Era uma fila muito longa. Ele viu, no final da fila, um garoto de uns nove anos usando apenas t-shirt e shorts.
Estava a ficar muito frio e o policia ficou preocupado que, ao chegar a vez do menino, poderia não haver mais comida.
Foi falar com ele. O menino lhe disse que estava na escola quando a tragédia ocorrera.
Seu pai trabalhava perto e dirigia-se para a escola. O garoto estava
no terraço do terceiro andar quando viu o tsunami levar o carro do seu
pai.
Quanto à sua mãe e sua irmã, por residirem próximos a praia, acreditava que não haviam sobrevivido.
O garoto tremia. O policia tirou o casaco e o envolveu, abrigando-o.
Também lhe ofereceu a própria bolsa de
comida, e disse: Quando chegar a tua vez, a comida pode ter acabado.
Assim, aqui está a minha porção. Eu já comi. Podes comer.
Ele pegou na bolsa e fez uma reverência. Depois, foi com ela até o
início da fila e colocou-a onde toda a comida estava esperando para ser
distribuída.
O policia ficou
chocado. Perguntou-lhe porque ele não havia comido, em vez de colocar a
comida para distribuição.
Sereno, ele respondeu: Porque vejo
pessoas com mais fome do que eu. Se eu colocar a comida lá, eles vão
distribuir a comida mais igualmente.
Quando ouviu aquilo, o policia virou-se para que as pessoas não o vissem chorar.
E concluiu que uma sociedade que pode
produzir uma pessoa de nove anos, que compreende o conceito de
sacrifício para o bem maior, deve ser uma grande sociedade, um grande
povo.
* * *
Sociedade justa é aquela em que cada um queira para os outros o que para si mesmo deseja.
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