O mundo assistiu, estarrecido, na sexta-feira, 13 de Novembro de 2015, aos atentados na cidade de Paris, na França.
As cenas pareciam irreais, tal a violência e a crueldade. Quem ligasse o aparelho de TV, de rompante, poderia pensar se tratar de um filme.
As vítimas, que somaram mais de uma centena, eram pessoas que se encontravam em lugares de lazer: amigos, familiares, colegas.
Quem poderia esperar que, no coração da capital francesa, se pudesse desenrolar drama de tal intensidade?
O saldo foi de lágrimas, de desespero, de providências por uma nação que se viu enlutada, chorando seus filhos.
Antoine Leiris, um jornalista do France Fleu, cuja esposa foi uma das vítimas, redigiu emocionante homenagem à esposa, morta no atentado a uma casa de espectáculos.
Dirigindo-se aos terroristas, escreveu:
Na noite de sexta-feira, vocês roubaram a vida de uma pessoa excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho. Mas vocês não terão o meu ódio.
Não sei quem vocês são e não desejo saber. São almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à Sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher foi uma ferida no Seu coração.
Por isso, eu não odiarei vocês. Porque responder ao ódio com raiva seria ceder à mesma ignorância dos agressores.
Vocês pretendem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com olhar desconfiado, que sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. O mesmo jogador continua a jogar.
Eu vi minha esposa somente nesta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira.
Tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos.
Claro que estou devastado pela dor. Concedo a vocês esta pequena vitória. Mas será de curta duração porque sei que minha esposa vai me acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no paraíso das almas livres.
Nós dois, meu filho e eu, vamos ser mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Não vou lhes dar do meu tempo.
Quero juntar-me a Melvil, que acorda da sua sesta. Ele só tem dezassete meses. Vai comer como todos os dias.
Depois vamos brincar como fazemos todos os dias e, durante toda a sua vida, esse garoto vai fazer a afronta de ser feliz e livre.
Tudo isso porque vocês nunca terão o seu ódio.
* * *
A carta, com certeza, nos emociona, toca-nos o coração. E nos remete a reflexões: como agiríamos ou reagiríamos nós?
Teríamos a mesma capacidade de retomar a vida e, sobretudo, ensinar o filho a amar?
É preciso ser grande para não se permitir envolver pela indignação ante a onda de violência. Porque da indignação ao ódio, a linha é muito ténue.
É preciso ter nobreza n’alma para não se deixar contaminar pelo desejo de vingança.
É preciso ter a certeza de que ninguém morre, de que a vida pode ser interrompida, mas os laços do amor não são destruídos pela ausência física, para se erguer e prosseguir a jornada.
É preciso ser paciente para aguardar o reencontro que pode ser logo mais, ou depois de dezenas de anos.
Quem sabe? Somente a Divindade.
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