«Não acumuleis tesouros na terra, onde os vermes e a ferrugem corroem e os ladrões destroem as paredes para roubar. Mas acumulai tesouros no céu, onde os vermes e a ferrugem não corroem nem os ladrões destroem as paredes para roubar. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.»
«Ninguém poderá servir dois senhores. Porque ou odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir Deus e Mammon.»
São Mateus, 6: 19-20, 24
Esta passagem do Evangelho de São Mateus deve ser comparada com o capítulo 16 de São Lucas sobre o administrador infiel. Primeiro, porque um e outro tratam de maneira idêntica a questão das riquezas; depois, porque ambos são seguidos de um comentário sobre os dois senhores: «Ninguém pode servir dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir Deus e Mammon.»
«Não acumuleis tesouros na terra, onde os vermes e a ferrugem corroem e os ladrões destroem as paredes para roubar; mas acumulai tesouros no céu…»
Para Jesus existem, pois, duas espécies de bancos muito diferentes: os bancos da terra e os bancos do céu, que têm, evidentemente, empregados muito diferentes uns dos outros. Mas é o próprio homem que representa estes dois bancos e eles funcionam em simultâneo num edifício comum: o seu foro íntimo. Porém, na realidade estes dois bancos são sucursais de dois grandes bancos cósmicos que os alimentam.
Estais admirados por eu utilizar tais comparações para interpretar o Evangelho?... É porque a vida do nosso mundo visível é construída a partir do modelo das realidades invisíveis. O que está em baixo é o reflexo do que está em cima; digo bem, um reflexo, porque nem a beleza nem a luz do mundo invisível podem ser encontradas na terra, mas existem correspondências que permitem comparar os dois mundos e compreender o que se encontra no mundo do Alto graças ao que vemos no mundo de baixo, o nosso mundo. O que são, pois, estes dois bancos, o da terra e o do Céu? São a personalidade e a individualidade, de que já vos falei.
Pode-se dizer que um banco terrestre se compõe, em geral, de três serviços diferente. O primeiro serviço é o dos depósitos; são os cofres-fortes, onde se põe as reservas em segurança. O segundo serviço ocupa-se das trocas de capitais, dos empréstimos. O terceiro interessa-se pelas operações financeiras, pelas especulações. Pois bem, encontramos exatamente estes três serviços na estrutura da personalidade. Os cofres-fortes correspondem às reservas do corpo físico, o serviço de trocas de capitais corresponde aos sentimentos, ao plano astral, ao mundo do coração, que estabelece continuamente relações baseadas no interesse. O serviço das especulações corresponde ao plano mental, ao intelecto, que só pensa em fazer cálculos nas costas dos outros, imaginando sempre as vantagens que pode tirar da sua ruína, atual ou futura. O banco terrestre enriquece sempre à custa dos outros, procurando sempre convencer o mundo inteiro de que o que faz, sente e pensa é inspirado somente pelo amor e pelo respeito ao próximo.
Há pouco, eu dizia-vos que cada frase de Jesus é plena de significado. Vamos ver o que significa: «Acumulai tesouros no céu, onde os vermes e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não destroem as paredes para roubar», prestando atenção às três palavras “ferrugem”, “vermes” e “ladrões”.
Comecemos pela ferrugem. Sempre se disse que os alquimistas procuravam a pedra filosofal para transformar os metais em ouro. Porquê em ouro? Porque, dos metais, só o ouro não se oxida e não é atacado pela água, pelo ar e pelos ácidos; ele só é solúvel numa mistura de ácido nítrico e ácido clorídrico, chamada água-régia. O ferro, pelo contrário, é conhecido por se oxidar com muita facilidade ao contactar com o ar húmido, formando a ferrugem que o destrói pouco a pouco. A ferrugem pode, pois, ser considerada como símbolo das matérias que atacam os metais e, de uma maneira geral, o reino mineral. Ora, na hierarquia dos reinos da natureza, o reino mineral corresponde ao plano físico; a ferrugem simboliza, pois, o que destrói o plano físico, o corpo humano.
Com os vermes, entramos no mundo astral, que é o do coração, dos sentimentos. Um ser cujo coração está cheio de ódio, de dúvida, de orgulho, de desprezo, de violência, é presa dos vermes. Não se diz, precisamente, que ele “se corrói”?... Se se corta um verme em pedaços pensando que se está a destruí-lo, verifica-se que, na realidade, ele se multiplica.
Do ponto de vista simbólico, é um fenómeno muito significativo, que se encontra no combate mítico de Hércules contra a Hidra de Lerna. A hidra era a monstruosa serpente de sete cabeças que renasciam à medida que eram cortadas; para a vencer, era preciso cortar as sete cabeças ao mesmo tempo. Hércules conseguiu vencer a hidra pelo fogo. Esta hidra representa os sete pecados capitais que renascem à medida que se tenta aniquilá-los. Só existe um meio de os destruir: o fogo divino do amor que queima todas as cabeças de uma só vez. Mas eu queria dizer-vos simplesmente que, ao falar de vermes, Jesus pretendia designar os inimigos que nos atacam no plano astral, certos desejos que nos corroem.
Os ladrões também são um símbolo. O ladrão está munido de chaves falsas, de um punhal ou de um revolver, e espera que a noite chegue para se pôr a trabalhar. Finalmente, quando todas as luzes se apagam, quando as pessoas estão a dormir, ele introduz-se na casa. Os ladrões simbolizam os nossos inimigos do plano mental. Aquele cujo intelecto está ensombrado ou entorpecido será atacado pelos ladrões, porque, por toda a parte onde reina a escuridão, os ladrões aparecem. Estes ladrões são entidades invisíveis – dúvidas, inquietações – que estão em vós. Todos esses pensamentos que vos deixam sem forças, fracos, esgotados, não são uma prova de que se trata de ladrões que vieram roubar os vossos bens? Mostrai-me os vossos tesouros de força, de alegria, de paz… Não podeis? É porque os ladrões os levaram. Os ladrões são os pensamentos que trabalham na escuridão para vos roubar as vossas aspirações, a vossa fé, etc.
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