Levanto cedo, ainda noite.
Vagueio entre o espaço escuro da casa.
Alterno entre os quartos.
Visto-me saio.
Entreolho as expressões na auto-estrada enquanto os automóveis revelam os seus ocupantes, os seus comportamentos, as suas expressões.
Atinge-me uma dormência dirigível
Volto ao jogo habitual que sempre me fascina, olhar entre o pára e o arranca para quem passa mesmo junto viatura ao lado, na auto-estrada congestionada.
Meu Deus, se me atrevo ainda a mencionar seu nome, é riquíssima esta experiência…
Como é possível chegar até ás pessoas sem as conhecer… e entretanto desvendar comportamentos pelas atitudes.
É ainda mais incrível se colocar no exercício algumas bitolas.
Por exemplo: quantas sorriem dentre estas talvez centenas de pessoas que de manhã se dirigem para os seus trabalhos, em direcção à cidade?
Será que se pode colocar a questão no plural, bem talvez por muito pouco.
A enorme quantidade de pessoas que vão de manhãzinha para a cidade com expressões vazias, fardadas, intoxicadas em fumo de cigarro…. aparelhos de telemóvel tantos dependurados nas orelhas, grotescos a enfeitarem pobres humanos despidos de sua humanidade natural.
Até parece por momentos, que aquelas pessoas fazem parte da viatura, alimentadas a combustível, mecanizadas, programadas em alguma oficina de marca.
É muitas dessas vezes minha alma arrepia, ao encontrar-me ali bem no meio, fazendo parte dessa amalgama poluente e fria, insensata e impiedosa, destruidora de energias.
É ai também muitas vezes, que sinto no automóvel que passa ao lado no pára e arranca, um irmão ou uma irmã que está exactamente a pensar o mesmo: - Que raio estou eu a fazer aqui?
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