quinta-feira, outubro 19, 2006

Sonho azul

Estava em alguma rua de algum lugar familiar. Predominava a noite e a ténue luminosidade era somente provocada por alguns corpos quentes, personagens conhecidas que nesta história revolviam em suas próprias questões. Estávamos como que suspensos, todos dentro de uma antiga casa grande e em penumbra. Lembro que estava cá fora algo a acontecer. Estavam agitados. Estranhamente, apesar de conhecer rostos que se agitavam alguns até a quem estou ligado em outras realidades, não me perturbava com esta agitação. Era como só estivesse a assistir a toda a acção como uma tela tridimensional. Todos à porta, abeirados da rua em que algo acontece. Ilumina o espaço tanto mais, como eu mais me desvaneço. Perco todos de vista, não resisto. Atravessa-me uma melancolia paralisante enquanto sem qualquer sensibilidade manifestada, dou por mim a ser sugado em lento voo sobre a calçada, depois a rua, os telhados e finalmente a cidade escura. Já só vislumbro as luzes á distancia… enquanto ao meu redor extasio minha tristeza redentora ao redor de estrelas e de uma luminosidade própria dos espaços altos e profundos. Algo dentro de mim me faz crer que viajo para longe da minha anterior existência conflituosa. Não reajo em redobrada inércia enquanto sou atraído para um destino desconhecido e irresistível. Voo de costas voltadas, voo em marcha atrás…sobre o planeta até ficar sem referencias de lugar algum… Recobro a consciência defronte ao balcão da estação azul. À minha esquerda estará um carro vermelho, outro amarelo e mais um ou outro mais, estacionados ordenadamente sendo os únicos a destoar o ambiente azul eléctrico do local… mas não me detenho tão pouco mais do que é preciso, nestes carros prontos a partir. Detenho-me imóvel em frente a um balcão azul, Á minha frente o recepcionista, um pequeno ser azul de feições humanas, pele azul, olhos brancos muito expressivos, tristes de mais, conformados e solícitos. Ficamos assim parados, cada um no seu lado do balcão, fitando-nos silenciosamente, quando sinto lentamente como a sacudir o torpor em que me encontro, a solicitação de uma decisão de minha parte. Ele quer saber se desejo uma chave de um carro, se desejo partir de novo, conduzir de novo, iniciar nova condução. Seus olhos permanecem como seu corpo, imóveis e inexpressivos. Brancos a contrastarem com o azul-escuro e etéreo da estação. Estou incapaz de responder, deliciado com esta avassaladora tristeza azul eléctrica que me atravessa e paralisa os movimentos, sinto-me um corpo celeste sem vontade própria além da capacidade de raciocinar, de contemplar. Espero na resposta, demoro o tempo que me parece um instante, mas sem qualquer aviso e serenamente, sou novamente elevado de costas para cima, irresistivelmente. E enquanto levito em direcção ao que me fica por detrás, fixo meu olhar neste ser azul como que em despedida e então compreendo. A minha escolha estava tomada. Não vou prosseguir, pelo menos por agora. Tenho que ficar, trago uma tristeza grande e profunda de mais para me poder expressar por vontade própria. Devo restabelecer-me para que possa visualizar próximos capítulos, de uma forma participativa. Agora por enquanto, sigo na direcção de quem toma conta de mim.

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