Reduzidos a cinco elementos já que parte da restante equipa se encontrava em peregrinação em Fátima, reunimos para mais uma ronda.
Devido aos últimos acontecimentos e em resultado de uma reunião entre os elementos da RSA, ficou decidido focalizar nosso impacto sob os que verdadeiramente apresentam visíveis sinais de fome e carência. Esperamos assim, eliminar um pouco a tendência para a formação de grupos de pessoas cada vez maiores, a pedirem comida e roupa sem terem uma necessidade real. É que atrás destes se juntam outros iguais e pior ainda, afastam os verdadeiros destinatários da nossa acção.
Esses sim, dão sentido à ideia de: quanto mais a necessidade, mais visível a candura e a educação da pessoa. Assim como: quanto menos a necessidade, mais o nervosismo e a agressividade latente na pessoa. E de facto temos confirmado isto nas ruas da cidade.
Entre aqueles que bem vestidos se acotovelam a pedir uma peça de roupa usada para muito provavelmente ir vender em alguma feira de segunda mão, constata-se com facilidade a tendência para a zaragata e o desrespeito, mesmo para com os próprios membros da RSA, que dificilmente mantém alguma ordem.
E é sobretudo esta constatação somada ao facto de outros grupos de solidariedade civil actuarem na zona em simultâneo, que decidimos estreitar ainda mais o foco da nossa objectiva.
Assim, para já eliminamos três dos locais de paragem ou seja o Carregal, Aliados e Júlio Dinis. Revelaram-se estes locais autênticos pontos de mendicidade maioritariamente sem necessidades essenciais. Aqui será necessário um trabalho mais ao nível da educação, da sensibilização que propriamente ao nível dos cuidados e necessidades básicas. Este não é o mote da nossa ronda.
Nós procuramos servir aqueles que se encontram no limiar da sua capacidade de se defender, aqueles que estão ou “à beira do abismo ou já transpuseram esta barreira”. Nesses queremos estar presentes corpo e alma, no sentido de ao aquecer um estômago e um corpo ter a esperança se possível, de aquecer uma alma. Esta é a nossa vocação.
Desta forma reduzimos as 150 sacas de alimentos para pouco mais de metade, partindo com o objectivo de as distribuir o melhor possível.
Generalizando, visitamos o casal de idosos na Sé, o Sr. António que já foi homem do mar, serralheiro, empregado têxtil, de entregas, enfim uma vida recheada de peripécias que não lhe retiraram a dignidade de um lobo solitário, os arrumadores um pouco pela cidade, fomos a Camões e por fim ao Aleixo.
E para não surpreender foi em Camões entre indivíduos “bem calçados”, que se verificou uma zaragata por causa de uns sapatos, ameaças de pancadaria entre eles, motivo suficiente para depois de ver que ninguém partia cabeças, nos pormos a andar rapidamente meio aturdidos com estas pessoas que nem acarinham tão pouco algum respeito pelo que fazemos.
Na sequência do que relato, no Aleixo é exactamente o inverso. Pessoas hiper necessitadas, com fome até aos ossos, vestidas com o sujo da calçada, surgem rua acima com uma serenidade nos olhos para connosco indescritível. São gentis normalmente até entre eles, com uma conduta e uma humanidade tocante. Agradecem o simples pão como se fosse um jantar. Estes sentimos, serem aqueles que nós desejamos servir. Que apreciam genuinamente ou naturalmente, a nossa acção.
De referir no bairro do Aleixo derivado a nos deslocarmos mais cedo que o habitual, o frenesim da clientela da droga. É chocante testemunhar o género de pessoas que se deslocam ao Aleixo para comprar droga. São maioritariamente jovens em automóveis de gama alta, muito bem vestidos, passos apressados, angustiados, passam por nós rápidos e sem olhar, para aquela que será um dia por esse andar, a única refeição da noite.
Sim eles por ora passam sem parar, sem olhar sequer mas um dia, a manterem este vicio certamente já viram à procura é de pão. Que a droga leva é tudo deixando só, a alma dorida e algumas lembranças do seu abandono.
E uma vez mais terminamos como iniciamos, com um circulo composto em oração magistralmente pronunciada pela Tia Ju, esta senhora que me encanta e que nos lembrou uma vez mais o fundador da RSA, o Sr. Fernando que todos sempre procuram com saudade, um homem que é uma referência de elevação espiritual, puro como uma criança, carismático e simples, entendido pelos que o amam e procuram seguir o seu exemplo.
Bem-haja, bem-hajam aqueles que sem pensar em si próprios, procuram servir a seu semelhante caridosamente.
Parece duro não é verdade?... mas parece seguramente a única solução para o momento presente.
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