O
jejum é, inicialmente, um excelente factor depurativo e regenerativo do
corpo físico. É muito ilustrativo o caso da pessoa desenganada que pensava
em suicidar-se através do jejum, ocorrendo no entanto de curar-se de
sua enfermidade com tal expediente.
O jejum favorece a força mental, e sobretudo a espiritual. E nisto, pode apresentar também múltiplos poderes curativos, inclusive de ordem sutil.
O jejum desencadeia recursos pouco conhecidos e valorizados que contribuem fortemente para a autonomia humana.
Pois
a verdade é que o corpo possui recursos pouco conhecidos do homem
moderno, cujos valores interferem na sua capacidade de percepção dos
factos. Devemos aqui ater-nos às secreções e excreções humanas.
As
secreções, emanadas por glândulas, tem funções como o de estimular
órgãos e o metabolismo. Muita delas são desconhecidas ou estão
adormecidas. As secreções externas também são depurativas. O suor também
serve para expelir toxinas (especialmente através do processo febril),
assim como o cabelo.
Já
as excreções (urina e fezes), à parte expelirem toxinas, são em boa
parte reservas de nutrientes que estão sendo expelidas por não fazerem
falta, pelo simples fato de estarem sendo continuamente substituídas
através de uma alimentação mais ou menos enriquecida ou substancial.
Mas
mesmo as secreções possuem função análoga. O suor e a urina expelem
água e sais. Os intestinos expelem fibras. A pele expele gordura e água.
Os cabelos são uma reserva especial de proteínas. A actividade sexual
expele calor e sémen. A menstruação expele sangue. Os mucos expelem
matérias graxas e líquidos.
Todos
estes representam recursos excedentes que poderiam ser empregadas e
reconvertidas como matérias-primas em caso de necessidade. Mas o corpo
apenas os emprega, através do processo chamado de autofagia, no momento em que o ser humano deixa de absorver nutrientes externos.
Ao
lado destes processos de depuração física, o jejum representa um
importante elemento de saneamento psíquico. E ele pode ensinar sobre
novas possibilidades, como a de manter-nos de forma mais ou menos
prolongada sem alimentos físicos e sobretudo sólidos.
Certas
correntes espirituais prescrevem como as principais atitudes
espirituais o jejum e a oração. Ambos devem estar unidos porque se
complementam de uma forma excelente. A oração canaliza a energia e
preenche o vazio provocado pelo jejum. E o jejum dá forças à oração. No
contexto do trabalho com a energia, devemos avaliar a palavra oração
como or-ação, ou "luz-em-movimento".
Existem
vínculos fisiológicos com recursos de aquecimento corporal em relação
ao jejum. O tema, juntamente às questões do jejum e do alimento
sintético, é desenvolvido em nossa obra Os Frutos do Paraíso.
"Celibato Alimentar"
É
óbvio que o processo de alimentação tem o seu custo para o organismo
humano, neste caso, ou até para questões mais sutis. Quando nos
alimentamos fisicamente estamos na realidade realizando um investimento. A energia empregada para assimilar um alimento não é pouca. Assim, um dos fatos a ter em mente é que o jejum economiza energias,
que poderão ser direccionadas para outras áreas, incluindo processos
novos. E isto se aplica a outras formas de actividades naturais incluídas
naquilo que se pode denominar como necessidades instintivas.
Dentro do quadro dos instintos, devemos destacar alimentação e sexo (deixemos de lado por ora o factor mental e seu instinto de auto-afirmação).
Nisto, podemos considerar que, se a comida é o alimento físico, o sexo
seja o alimento emocional. Tanto o alimento alimento como o sexo são
processos com ónus e bónus: de um lado alimentam, e de outro lado
desgastam. O alimento produz base calorífica, vitamínica, etc, mas
requer grande energia para ser processado. É claro que nem todo o
alimento é pesado da carne ao mel, ou da gordura saturada à água,
existe toda uma hierarquia de custos para o organismo assimilar-; vamos
tratar aqui portanto de alimentos mais difíceis e artificiais, ou mesmo
assimilados sob más condições. Sabidamente o sexo, nosso grande estímulo
emocional, também é por sua vez fisicamente desgastante, e fazê-lo
todos os dias pode ser stressante para a média das pessoas. No caminho
espiritual, o jejum sexual também tem em vista a economia energética.
Para ter uma clara ideia da relação alimento-energia, basta observar
justamente como a prática corrente do sexo dá fome e frio; a actividade
sexual gera uma profunda necessidade de alimentação física, pois despende muitas calorias.
Por
sua vez, é também muito mais difícil manter o celibato se mantemos uma
alimentação mais ou menos densa ou pesada. Observa-se que a digestão, ao
concentrar energias no estômago e nos intestinos, estimula também todos
os centros inferiores. Ingerir alimento além do necessário e ainda de
má qualidade e de forma irregular, pode tornar incontrolável o desejo
sexual. O jejum, por sua vez, naturalmente inibe toda a excitação.
De
fato, o grande emissão de energia da actividade sexual deve ser
necessariamente compensada pela alimentação física. Esta, por sua vez, a
depender do volume, do ritmo e da qualidade, pode apresentar um excesso
de actividade energética nos centros inferiores, que também procura por
sua vez a sua evasão através da actividade sexual. Neste ciclo
interminável podemos encontrar uma das mais fortes imagens do samsara, a roda dos ciclos de existência material.
O
problema é que muitos místicos buscam compensar suas ansiedades sexuais
enchendo demais o estômago. Neste caso, deveriam pelo menos
alimentar-se de forma regrada e com um mínimo de ansiedade, além de
fazer disciplinas físicas, psíquicas e mentais regularmente, como forma
de refinar e elevar a energia.
Outra
solução seria ingerir alimentos de boa qualidade e não muito pesados,
como sopas e frutas. Volume e densidade se compensam como uma gangorra
na natureza, de modo que a alimentação volumosa dos herbívoros é pouco
densa, ao passo que a alimentação densa (ou concentrada) dos carnívoros é
pouco volumosa. É preciso fazer uma opção; o ser humano é "omnívoro" e
todas as possibilidades se abrem diante dele. Mas reunir ambos os factores como tantas vezes se faz hoje em dia, é a própria fórmula do
suicídio. Quando desejamos seriamente concentrar energias para a
evolução espiritual, é muito difícil encontrar soluções fora da vida
comunitária (como nos mosteiros), ou mesmo sem uma existência errante e
totalmente despojada.
É
o jejum, precisamente, ou a dieta racional e rala, representa um
poderoso equilibrante. Deve-se ter em mente que a alimentação leve
representa um factor de equilíbrio e portanto o índice de "normalidade"
desejável.
Assim,
ambos os processos, digestivo e sexual, estão interligados, pois
pertencem ao complexo biológico-instintivo dos centros inferiores, os
quais formam uma unidade funcional. No entanto, existem formas mais
sutis de fazer estas coisas sem tanto desperdício de energia, mas para
alcançar isto é preciso harmonizar nossos corpos e elevar nossa
consciência.
A actividade sexual pode ser realizada, em termos, sem o enorme
desperdício de energia produzida pela emissão de sémen. Este procedimento
é particularmente importante para o homem. Cálculos modernos afirmam
que nele a energia emitida no orgasmo é nove vezes mais forte que na
mulher. Por esta razão os manuais taoístas de sexo prescrevem para o
homem a contenção do sémen. Isto não significa privar-se de todo do
orgasmo, mas para separar o joio do trigo é preciso muita prática e
controle. Idealmente, é importante um(a) parceiro(a) especial, que
auxilie o discernimento e a fusão energética, e mais ainda, a orientação exacta de um instrutor.
Mais
simples e básico seria começar com o alimento físico. Neste caso,
também em relação a ele deveríamos buscar economizar maioritariamente as
energias, evitando consumo desnecessário e irregular. Devemos começar a
disciplinar a alimentação, comendo de forma regular, seleccionada e
natural. Evitemos temperos e temperaturas não-naturais. Busquemos
alimentos leves, que podem ser naturalmente saborosos, como as frutas. E
evitemos cozimentos.
Com
isto estaremos fortalecendo a vontade sem debilitar o corpo -–e este é
um ponto muito importante, porque a vontade é um dos factores que
possibilita a recanalização das energias.
Queremos pois vender a ideia de que o pranivorismo é uma espécie de celibato alimentar. O pranivorismo significa que o homem está abrindo mão de certos ciclos, sendo na verdade um passo além do
celibato, ao avançar sobre um instinto ainda mais básico, mas seguindo a
mesma lógica de economia e ética. Representa de certo modo a etapa
final de um caminho de retorno, o retorno sofrido mas vigoroso ao planeta que realizam os altos iniciados a fim de servir
de forma perfeita, o que exigirá também a elevação de pensamentos e
sentimentos, permitindo um realinhamento geral de energias em torno
desta base última que é o plano físico.
E ao lado da economia de energias com a digestão, o pranivorismo possibilita a preservação de todo
o aparelho digestivo, a iniciar pelos dentes, cujos cuidados passarão a
ser mínimos, apresentando em contrapartida maior capacidade de
recuperação.
O Génesis é taxativo quanto ao fato de o ser humano apenas ter passado a
morrer após o Pecado. Enquanto a sua consciência estava firmemente
ancorada na Lei espiritual, ele gozava de uma plenitude completa,
desconhecendo inclusive a suprema angústia que é a da degeneração e
mortalidade do corpo e da alma. O Paraíso existiu enquanto o homem não
destruía a Terra e a si próprio, seja por alimentar-se de frutos, seja
por empregar directamente o prana.
Cada
Idade tem o seu nutriente, e esta seria uma explicação para a
longevidade dos Patriarcas, que mesmo após o Pecado viviam ainda quase
um milénio, naquela que foi a Idade de Prata. Somente depois do Dilúvio é
que o homem passou a viver no máximo120 anos, na Idade de Bronze. Já no
ocaso da Idade de ferro, ele mal alcançava a média de 50 anos. Este
quadro começa hoje a se reverter em certas partes do mundo, pois estamos
entrando em um ciclo de retorno à Unidade.
O Dharma Lunar dos Budas Manushi (humanos) como Gautama, permitem que o homem contemple a imortalidade da alma. Mas os Dharma solares dos Budas Dhyani
(Contemplativos) como Maitreya, alcançam um grau de totalidade que
integra a todas as coisas, liberando também a matéria para comungar com a
luz e a eternidade.
Não
existe necessidade de sentir "vazio" pelo fato de não se alimentar
fisicamente. Temos muitos sentidos e podemos perfeitamente empregar
novas fontes de estímulos. O que poderá ser necessário, isto, sim, é
providenciar os meios, seja plantando fartos pomares, seja semeando
amplos jardins, posto que, como afirmou um Mestre Ascenso, 90% do prana da
Terra está acumulado nas flores. Assim, à parte o elevado teor de
gratificação à nossa sensibilidade que oferecem as flores, elas ainda
nos proporcionam alimento sutil!
Quem
disse que o prana também não tem os seus sabores e aromas, ou a
variedade e a beleza que, enfim, tanto atrai o ser humano e dá sentido à
sua existência? Tudo pode ser refinado nesta Terra. Da mesma forma como
as frutas oferecem todo um arco-íris de cores, aromas e sabores, o
prana, especialmente na forma dos perfumes das flores, também apresenta
suas variantes, riquezas e densidades. "As flores são botões
celestiais", são portas de ingresso para mundos paradisíacos, tal como
pode ser a música para outro de nossos sentidos.
De resto, podemos também alimentar-nos de beleza
–particularmente relacionada às flores, uma vez mais–, contemplando o espectáculo da vida sem participar activamente de seu drama a não ser para
auxiliar. O universo é repleto de mistérios e de belezas. Um dia
seremos seres cósmicos livres para transitar através dos mundos no
espaço sem fim. Porque não iniciar esta aprendizagem aqui e agora,
elevando a nossa consciência e refinando os nossos sentidos?
O
sistema digestivo não será necessariamente inutilizado ou desprezado,
pois não deixaremos de nos alimentar de todo fisicamente. Enquanto
estivermos encarnados, apenas vamos reduzir paulatinamente a ingestão de
alimentos e refinar a sua qualidade, visando economizar energia e contactar com fontes superiores. Mesmo os pranivoristas ingerem água regularmente.
Quem
sabe o homem não poderá um dia degustar de um fruto por um prazer
quase... estético? Isto é, sem real necessidade de alimentar-se dele,
mais pelo deleite que possa representar a sua unidade. Afinal, estes
produtos da Natureza merecem o mais alto respeito, pois na sua
excelência são belos, bons e perfumados, representando um prazer para
todos os sentidos, mesmo quando altamente refinados.
Eis portanto a nossa segunda grande premissa:
Toda a forma de alimentação é cíclica.
Ou seja, toda a nutrição, além de ser feita com regularidade, envolve
necessariamente os processos de absorção e eliminação. Isto é bem
conhecido com os alimentos sólidos, líquidos e gasosos. Mas o mesmo
também acontece com as energias prânicas, através das emanações
nervosas, que podem ser de diferentes qualidades e ainda afetam os
corpos de forma bem definida. Neste plano deveríamos falar da "qualidade
da aura" e das emanações mais ou menos sutis que todo o ser humano
produz.
Apenas
quando encaramos seriamente a nutrição prânica, com qualidade e
quantidade apreciáveis, num circuito prânico equilibrado e saudável, com
os nadis (nervos sutis) abertos e integrados, é que podemos
pensar em abandonar os ciclos mais densos e desagradáveis da existência,
buscando com isto eliminar os desgastes naturais em todo o mecanismo.
Talvez
os piores odores da Terra sejam os dos excrementos e o da carne
apodrecida. Quando o homem começa a sua evolução espiritual ele também
deve refinar a alimentação. Isto prontamente o afasta de odores menos
agradáveis, até porque recupera a sua sensibilidade natural e até
desperta sentidos superiores. Com o tempo poderá desejar reduzir ou
eliminar todo o ciclo material de nutrientes. É bem possível que um Ser
superior tenha mesmo ojeriza de qualquer possibilidade de excreção. Mas
para que isto seja possível é necessário também deixar de se alimentar
de forma densa, e a menos que se deseje pensar em usar o corpo físico
(juntamente com os corpos emocional, mental e a aura) como uma espécie
de "processador atómico", a lógica seria extrair directamente a energia
do éter e das fontes luminosas.
Dizem
os cronistas que o Conde de Saint Germain jamais se alimentava; ainda
assim ele frequentava as cortes europeias e as rodas da alta sociedade
da época. Jesus jejuou 40 dias, e o valor 40 (ou 42) estaria associado
ao processo de Ascensão (através de 6 x 7). A santa estigmatizada Teresa
Newman e a indiana Giri Bala deram exemplos disto neste século.
Existem
informações na literatura mística sobre iniciados que não morreram, mas
foram directamente para uma outra dimensão, abrindo um portal
transdimensional à sua vontade para retornar ou não a este mundo (ver a
obra de Carlos Castañeda). A chave disto é a reprogramação mental, ou o descondicionamento de nossa leitura de mundo. E este é um dos mais importantes recursos da Ascensão.
Consta que hoje muitas pessoas do mundo ocidental estão realizando experimentos nesta área. A obra Viver de Luz,
da australiana Jasmuheen, traz certas informações a este respeito, com o
testemunho de indivíduos que tem passados por processos desta natureza e
tem permanecido praticamente sem se alimentar por anos a fio, assim
como procedimentos que podem ser adoptados para alcançar esta experiência
que seria, sem dúvidas, uma das bases da Ascensão da consciência, posto
ser o instinto alimentar o mais básico e arraigado de todos.
Da obra Nutrição Etérica, LAWS
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