quinta-feira, novembro 30, 2006

RSA - Voluntariado

Bairro do Aleixo. 1:00/2:00 Horas da madrugada.
Frio… tem frio a subir a calçada nos passos incertos em direcção aos sacos de comida. Quem sabe uma roupita limpa, umas calças ou um cobertor.
Chegam como feras de súbito amansadas pela necessidade de uma presença que se rende.
Estamos desta feita dois grupos, partilhamos o mesmo espaço. No fundo tem dentro de cada um dos voluntários uma motivação insondável. Uma coisa de grito calado, de resistência. Mas os actores principais deste palco, o Palco do Aleixo, são estes homens e mulheres maioritariamente jovens que irrompem pela madrugada rua acima, saídos das torres como se fossem ratos a sair das fossas, do esquecimento social, como se duma ferida infectada se tratassem.
Ei-los que chegam mansos mas apressados, é que se faz tarde a qualquer instante para voltar ás torres, onde esperam horas, minutos, segundos, milionésimos de segundos uma horrenda e suja história, a ansiada chegada da mãe do esquecimento: A droga.
Aqui é rainha, com seus anónimos quase invisíveis distribuidores, que se deslocam em velozes viaturas de alta gama. Aqui se confirma que são os sem abrigo da cidade os eleitos candidatos à toxicodependência. Maravilha para os traficantes. É que é gente altamente necessitada, gente da qual a sociedade já não pede muitas contas, gente que passa despercebida pelo desprezo que causa aos transeuntes e ás autoridades, que maravilha… gente pronta para entrar na dependência, até traficar se assim for necessário, gente com problemas psicológicos, problemas de saúde graves, problemas familiares, enfim de toda a espécie.
São muitos destes sem abrigo as vítimas escolhidas pelas redes de traficantes que operam no Aleixo sob a calada da noite, sob o consentimento hipócrita das autoridades ou a sua competência insuficiente para controlar o tráfico. Não tenho duvida que das ruas do Bairro do Aleixo já se passou de uma situação de sem abrigo para uma situação de foco de doença, de desumanidade a um nível do incompreensível.
Pobre cidade onde nasci, quando irão os nobres que te governam olhar para ti como um todo e deixar de dar tanta importância ao estado das fachadas?

Sem comentários:

Enviar um comentário