Refiro o assunto na intenção de ajudar a reflexão naqueles que procuram associar o desenvolvimento da espiritualidade e seus dons a processos complicados, anti-naturais e de resultados imediatos, o que não deixa de ser uma forte candidatura ao sentimento de frustração.
Um bebé passa de deitado para sentado, primeiro com alguma ajuda depois autonomamente. Seguidamente, inicia a tentar gatinhar e cai algumas vezes de barriguinha no chão.
Volta a sentar-se, com o repetir do processo vai ganhando confiança e perante cada repetição vai ficando mais fácil.
Um dia finalmente consegue colocar-se verticalmente, de pé. Ainda titubeante quando tenta dar os seus primeiros passos desequilibra-se e invariavelmente, acaba ou sentado ou novamente caído no cão.
O processo repete-se. Através das muitas quedas vai começando a enraizar confiança e a desenvolver os mecanismos naturais internos que o vão ajudar a ensaiar os primeiros passos sem cair.
Assim, sem desistir, dia-após-dia, inicia a caminhar e logo à frente as primeiras corridas... os primeiros pulos, etc.
Mais tarde, já em jovem e até à idade adulta só voltará a cair provavelmente porque tropeçou ou escorregou em alguma coisa...
Um processo natural, que necessita de tempo para que se consolide, dedicação para que se desenvolva, disciplina para que se organize, persistência para que se formalize, enfim prática e exercício para que se estabeleça de forma mais continuada.
De facto muitos de nós são confrontados com a existência da espiritualidade mais pela casualidade que pelo resultado de uma prática intencional e continuada.
Como a sua presença acontece de forma naturalmente mais intensa quando confrontados com situações de grande comoção, seja um acidente, uma doença grave, uma tragédia de qualquer espécie, nesses momentos o ser humano dá-lhe valor porque submetido a algum tipo de condicionamento a sente de forma inquestionável, é nessa altura que acredita como se costuma vulgarmente dizer, em algo mais.
E tem razão.
Somente não é lógico concluir daí, que a percepção espiritual nas pessoas tenha que ser resultado unicamente de algum tipo de condicionamento significativo.
De igual modo, através de uma dedicação suave e continua, de uma observação minuciosa e exaustiva através da contemplação, através do estudo de alguns dos muitos textos acerca do assunto disponíveis, essa mesma certeza interior pode com certeza ganhar um espaço permanente no interior de uma pessoa.
Para concluir esta abordagem, é muito mais pela atenção a estes processos continuadamente e sob o quotidiano, em todos os seus ambientes, que a espiritualidade pessoal se desenvolve em sentido ao Cristo interno de cada um de nós.