quinta-feira, maio 29, 2025
sábado, maio 10, 2025
Acerca da cedência do corpo
O homem ainda hoje na sua generalidade não sabe como se há-de relacionar com o seu nascimento e sobretudo, com a sua morte. Por consequência com a sua própria vida também não, e daí se observa por todo o globo terrestre todo o tipo e variedade de desequilíbrios e desarmonias, de comportamento erráticos, de ações danosas e de desrespeito sobre um organismo perfeito, como é o humano e se cometem a toda a hora. Dotado de uma consciência subdesenvolvida, com todo o tipo de formatações a justificar atrocidades, o homem sofre e derrama sofrimento por onde passa.
É dito que a falta de uma verdadeira visão da sua própria condição humana, o remete muitas vezes à obscuridade, à impotência e pior, à prepotência sobre os demais semelhantes que pisa sem pudor, e explora manipulando, violentando a seu bel prazer, sem segunda hesitação, covardemente e repetidamente, sobre os mais frágeis em sua condição, como as crianças, as mulheres, os doentes, os desafortunados e os idosos.
Falta-lhe entender a importância de assumir com grandeza de espírito, ou no mínimo com naturalidade, que está de passagem pela existência, e que esta dura breve instante apenas, comparativamente à natureza que nos rodeia a todos.
Ao homem falta compreender que o seu próprio corpo, contrariamente ao que sem pensar assume, …não é seu, e afinal nem emprestado está. Pois se fosse seu, com ele poderia fazer o que bem entender sem ter que responder por isso, e sabemos que nem nas imperfeitas leis humanas isso é permitido, quanto mais perante as leis do espírito, impossíveis de ocultar ou subjugar.
Se o corpo não é meu, se tão pouco não me está emprestado, se não o posso devolver como recebi, se não o posso conservar para além de um tempo limitado, que usufruto e desconheço, e que a ciência não consegue tão pouco prever exatamente… que é este corpo que me veste, que sustenta os meus órgãos, músculos e tendões, que permite que me expresse como existência consciente?
Não sei o que é, mas imagino que é cedido pelo universo, para por enquanto eu tenha onde ficar, e se eu caminho num processo continuo, em que este se transforma, pode muito bem ser que, até que esteja construído o meu lar sem corpo, aquele que no fundo será construído pela forma como vivo, este corpo seja um casulo existencial temporário, como se verifica com tantos outros animais na natureza, enquanto se transformam.
E se o nosso corpo é como um processo, com que o Universo nos irá permitir criar um corpo indestrutível a partir das nossas experiências?
E se este corpo não é mais do que um meio, para evoluir na identificação dos processos, necessários a consciencializar, que se compõe o caminho a percorrer para chegar ao verdadeiro e definitivo lar.
O lar que encontraremos depois de cessar a utilidade deste corpo, sede das experiências.
Ocorre-me que nenhum homem tem direitos exclusivos sob algo que tão fugazmente possui. E quando procede como se assim fosse, destrói o seu corpo ou o dos outros ignobilmente, como nas guerras e conflitos a exemplo.
O nosso corpo merece todo o respeito e cuidado, pois é como um veículo cedido gentilmente por uns breves instantes, para que tenhamos a oportunidade de pelo seu correto uso, conhecer avenidas e atalhos, vales e desertos, que teremos de percorrer até que chegue finalmente, ao lugar de onde provimos, novamente, mas desta vez recheados de conteúdos e competências, a um dia quiçá, retomar a viajar num novo e outro corpo, para outros e novos destinos, de onde também um dia proviremos.