"Paro, escuto...reflicto. O coração bate enquanto as velas ardem...o
conflito entre a anestesia da vida e da alma enquanto viva faz parte do poder
temporal de um coração recheado de mistérios.
Há que saber escutar...
Há que saber sentir... Há que saber esperar!"
Receber este maravilhoso texto, conduziu à partilha do seguinte tema:
Proponho meditar sob dois cenários possíveis para uma mesma situação. Uma
pessoa que pode ser qualquer um de nós, sujeita a uma observação e suas etapas
que se desenvolvem a partir de uma mesma origem.
Só a dinâmica do desenrolar através destas etapas é que irá em última
instancia, conduzir a diferentes destinos.
Proponho a visualização desta pessoa desde tenra idade.
Os primeiros anos, na infância sua experiência com o mundo ao seu redor
é sobremaneira física, material. A sua aprendizagem está condicionada aos
estímulos dos sentidos localizados mais à flor da pele, o tacto, o olfacto, o
som, o olhar. Suas primeiras relações pessoais são as de maior proximidade física
e de afecto; os pais, familiares, vizinhos e até os amigos. É assim através
destas interacções, que timidamente se inicia a construção do que constituirá o
seu primeiro campo psico-emocional. Este campo emocional está para a pessoa
como as traves mestras estão, para a construção de um edifício. De uma forma
natural, são os primeiros estímulos a revelar a base que norteará a pessoa em suas
futuras interacções com o mundo. Sob o manto da infância e de sua
característica inocência, a pessoa mais se foca em receber que em conjecturar
acerca do que recebe.
Na adolescência, a pessoa normalmente inicia nova etapa.
Motivada por recursos psicológicos em expansão, também por não estar deveras
formatada com nenhum tipo de educação em especial, a pessoa começa a tentar conciliar
uma rede de identificação entre as várias experiências a que é submetida. Sujeita
a uma torrente cada vez maior de experiências e cada vez mais intensas, no
sentido de as tentar organizar dentro de si, procura elementos comuns naturais a
todas as experiências. Afinal uma forma natural e espontânea de ordenar um
certo caos que tende a instalar-se tanto pela multiplicidade das experiências como
dos intervenientes. A um certo nível é também a procura de simplificar,
estabelecer um elemento comum, facilitador entre tudo o que acontece à pessoa.
Nesta altura surgem perante as óbvias dificuldades em harmonizar
situações por vezes tão complexas e díspares, as primeiras questões. Sobretudo
na adolescência, surgem na pessoa os primeiros contactos íntimos consigo própria
e consequentemente os primeiros confrontos interiores entre os seus resultados
e a necessidade de sua compreensão.
Nesta altura a pessoa inicia um trajecto em que passa a viver
gradualmente mais intensamente os seus relacionamentos interiormente. Surge
nesta altura a característica irreverência dos jovens, a rebeldia e em casos
extremos, a revolta. Por esta altura a pessoa, de um campo de batalha entre os
estímulos que lhe chegam do exterior e do resultado da sua actividade interna, resultam
em parcelas cada vez maiores, questões, dúvidas, algumas delas muito
importantes no sentido de orientar a pessoa para o desenvolvimento da sua
psico-esfera emocional e consequentemente comportamental.
Cenário 1: a pessoa passa desta etapa para a idade adulta,
desenvolvendo-se mais orientada para os estímulos que chegam do exterior. Todas
as experiências e os intervenientes do seu meio ambiente ainda agem estimulando
que assim seja, até por questões culturais.
Muitas das questões características da adolescência, do tipo - porque é
que és meu pai e não outro? Porque é que nasci nesta família e não noutra?
Porque é que sou assim, sinto desta forma e não doutra, como por exemplo aquela
pessoa?, ficam sem abordagem e resposta. Sem estímulo de conversação. Pelo contrário
a cada dúvida que surge, a pessoa “esbarra” com um estímulo em sentido
contrário, mais banalmente todo o género de estereótipo, seja ao nível pessoal,
ao nível religioso, a todo o tipo de nível. A resolução para toda a questão
sensível e sem resposta pronta, é substituída por algum tipo de estímulo
compensação contrária, mais do tipo plausível, verificável.
Gradualmente a pessoa é inserida numa dinâmica em que se despe pela sua
tendência de simplificar a linguagem, de todo conteúdo de difícil resposta.
Passa a graduar-se mais pelo nível dos estímulos externos e materialistas, e
consequentemente a esvaziar-se das questões complicadas que são substituídas
pelas respostas fáceis, mais plausíveis. Passa inclusive a deixar de colocar
questões para simplesmente se aperfeiçoar na navegação orientada por estímulos
exclusivamente visíveis, muito identificáveis com os processos presentes em
dinâmicas onde impera a competição.
Ironicamente dá-se uma espécie de retorno ao modo de operar que a pessoa
utilizou na infância. O adulto cristaliza-se a pouco e pouco nos sentidos
“tácteis”.
Este comportamento que ainda é preponderante neste mundo junto da
humanidade, é causa de inúmeras patologias graves, de milhares de lares
desfeitos, de famílias de costas voltadas competindo ferozmente pelo mesmo espaço.
De solidão e desespero, de um sem número de suicídios, de dependências de todo
tipo, de todo o tipo de subversão, corrupção, ingerência, etc.
Cenário 2: a pessoa entra na fase mais agitada de seu desenvolvimento,
onde como já vimos as questões afloram abruptamente, questões ao nível dos
afectos, das emoções, das relações e do próprio corpo em erupção, quando a cada
uma das suas dúvidas são colocados desafios ainda maiores.
Neste cenário, quando possível é explicado à pessoa porque é que sente
como sente, quando não é possível porque nem tudo pode ser explicado retoricamente
mas vivenciado, é pelo menos pelo exemplo, demonstrado qual o posicionamento
correcto para que a percepção de uma possível resposta possa emergir. A pessoa
entretanto tem acesso a um meio ambiente equilibrado. Na falta de respostas
fáceis, encontra pelo menos uma disponibilidade para a partilha genuína das
questões, não se sentindo inibida ou coibida em exteriorizar os seus sentimentos.
Resumindo, encontra um terreno favorável em seu redor entre aqueles que são as
suas principais referências, para exteriorizar seus abundantes sentimentos, que
emergem em complexidade e número. A pessoa sentirá encorajamento para
confrontar estímulos e referências externas, com o seu mundo interior, para de
uma forma natural se organize interiormente. A pessoa sem intenção e de forma
natural meditará mais, terá necessidade de alargar seus períodos de reflexão e
tenderá a usar dos estímulos externos para condimento do que será o seu prato
principal, preparado lá no seio de si mesma. Esta pessoa exercitará uma noção
de tempo mais identificada com o seu biorritmo, com a sua digestão por assim
dizer. Mais auto-confiante, descontraída e simultaneamente mais natural, na
falta de obter respostas que considera importantes através de um contacto
humano directo, estará receptiva a procurar sob diferentes formas, com elevada
tendência para todas as formas de arte, seja a literatura, a música, o teatro
etc.
Esta pessoa desenvolve um autoconhecimento elevado, é positiva e benéfica
para o ambiente. Onde se encontre, as dificuldades são vistas como
oportunidades de aprendizagem e não como fatalidades. Tem uma acertada noção de
intervenção respeitando de forma pacífica, as conversações e o estabelecimento
de acordos. É amante da beleza natural, não se detém mais que o indispensável
no sensualismo. Aprecia o que lhe é benéfico, mas não despreza a dificuldade
por lhe reconhecer a oportunidade. Valoriza o bom uso do seu corpo e mente, e
está em perfeito controle de seu trajecto, fluindo e adaptando-se às circunstâncias,
sem se vangloriar, sem competir e sem perder sua genuinidade. Seu envolvimento
natural em todas as questões da existência, fazem desta pessoa uma pró-activista
do desenvolvimento sustentado de todo tipo de manifestação conhecido, à face
deste planeta. È uma pessoa integradora, integral, cuida do que serve de seu
alimento, cuida do que serve de seu plano, cuida de seus relacionamentos com
verdade, alinha-se pela sua natureza, o seu intimo aliado. É interveniente, e
se tiver que se opor não o faz cegamente, mas olhando o opositor nos olhos e
muitas vezes com um sorriso de conciliação. Uma pessoa que em adulta, já algo
madura, se dá conta de estar a receber a todo o instante, através de expressões
artísticas, das formas mais inusitadas, imensas respostas a questões que havia
colocado em jovem e que já havia esquecido. Uma pessoa que pela sua dinâmica de
constante descoberta, a monotonia não existe, a rotina não limita, as paredes
não contém. Uma pessoa que se ergue de manhã cedo já emitindo pensamentos de
gratidão, pelo plano que permite a sua própria revelação. Alguém que sorri com
o coração. Que ama com o coração. O alquimista de seu coração. O explorador de
sua vastíssima experiência. O aprendiz sem medo. A ascensão.
Cada Um tem o seu tempo
ResponderEliminarPara as escolhas da vida
Se a Uns, o Sol cega,
A outros ilumina
Se dando o seu melhor
Um não consegue subir
Serve de catapulta
Para o Outro ascender
Quem dá mais?
Quem dá menos?
O cego,que se faz pavio,
Ou o que se tornou candeia?
“Por fim explicava-nos que uma família é exactamente como o feixe de pauzinhos.
Apesar de frágeis, quando unidos desenvolvem uma resistência extraordinária…”
Arco Senda, Aprendiz sem medo.
Magnifica tese sem esquecer o comentário :-)
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