quarta-feira, abril 21, 2010

Mensagem ao Planeta do Afecto

Extensões e extensões de vida fresca,
orvalho que se evapora no ar,

luz azul que magoa os olhos de respirar e que doi no peito
quando brilha fundo porque já não estamos habituados

narinas dilatadas,
mãos quentes de nervoso miúdo,
faces rosadas e calor
regatos de gargalhadas
colinas de abraços meigos
muito, muito horizonte
de todos nós,

mesmo assim entrelaçados
nos afectos de todos nós

autoria: preservada

terça-feira, abril 20, 2010

Missão Reiki

… Alano deu por si num tempo impossível de descortinar mas indiscutivelmente real.

A noite estava fresca nessa pequena cidade costeira e fervilhava de actividade. Uma agitação geral e ainda que Alano não pudesse explicar a si próprio, sentia a tranquilidade de uma protecção sem medo.

Ao percorrer uma das ruas mergulhadas na maior escuridão, Alano reparou que o céu estava excepcionalmente iluminado e a cidade sob a característica escuridão da falta de energia eléctrica.


Enquanto cruzava as ruas, via alguns clarões atrás dos prédios, percebia movimentos de viaturas e também alguns clarões daquilo que lhe parecia como o clarão de um ferro de soldar gigantesco. Enquanto caminhava pela escuridão iluminada, naturalmente seus olhos acabaram fixando repetidamente o céu, onde aquilo que parecia até então estrelas imóveis e brilhantes como diamantes, Alano reparou que se moviam. A sua percepção, ao assistir à formação de uma perfeita recta como um imenso traço brilhante no altíssimo céu, ou melhor no espaço, com pequenos pontos brilhantes que tanto se afastavam como se reagrupavam, foi de estar a assistir a algo nunca visto. Entendeu que não era um fenómeno natural que estava a presenciar e quase simultaneamente começaram a sobrevoar vários objectos voadores lentamente sobre os telhados e as ruas da cidade. Alano não conseguiu vislumbrar as suas formas porque suas fuselagens inferiores eram munidas do que lhe pareceu cerca de seis enormes e potentes projectores de luz branca.


Alano achou que era o momento certo para começar a afastar-se, pois apesar de não entender o que se estava a passar, não queria ficar de alguma forma para trás para saber…


Correu pelas ruas escuras, ocasionalmente passava uma nave a cerca de 20 ou 30 metros de altura efectuando manobras lentas, com uma atitude que entendeu como patrulhamento. A um dado momento, enquanto Alano se deslocava oculto e camuflado pela escuridão para evitar alguma surpresa desagradável, após a passagem de uma destas naves notou que havia dois pequenos aparelhos que nunca havia visto, pairando à sua frente. Estes aparelhos imobilizaram-se bem à sua frente a cerca de 1,50mt do solo, obrigando-o a parar e a ficar frente a frente com eles. Sem saber muito bem o que fazer, Alano agarrou um deles, o que tinha uma forma muito semelhante a um pequeno foguete, enquanto o outro, uma espécie de pequeno cilindro com um “nariz” de papagaio numa das extremidades rapidamente sumia, em direcção ao alto.


Assim que agarrou este mini foguete como Alano lhe chamou, o aparelho ganhou gravidade e ficou como um objecto inerte em sua mão que se apressou em atirar para longe, na esperança que ele retomasse a sua acção e Alano pudesse seguir o seu caminho sem interferir no que estava a acontecer, garantido assim alguma segurança. Por alguma razão, ao ver o objecto imóvel caído no chão, Alano correu a apanhá-lo, talvez pudesse tentar lança-lo novamente e assim passar despercebido à sua origem. Ao caminhar em direcção a ele, desembocando numa outra rua para onde o aparelho havia sido projectado, Alano reparou numa viatura que se dirigia em sentido contrário e em direcção a si. Alano apressou-se e acoberto da escuridão conseguiu evitar que os faróis da viatura o detectassem antes de apanhar o mini foguete, ocultá-lo sob a sua camisa e virar as costas baixando o rosto para o chão. Ainda deu para pelo canto dos olhos ver à passagem, que no seu interior iam duas pessoas, militares fardados, que pela experiencia de Alano, eram dois elementos da força aérea e de patente superior. O acompanhante do condutor levava um mapa e a luz do habitáculo estava acesa. Foi assim que Alano viu momentaneamente o que descrevo, o que o conduziu imediatamente à conclusão de se tratar de elementos da base aérea internacional estacionada no aeródromo militar lá próximo.


Assim que a viatura desaparecia na rua em direcção ao mar, Alano deslocava-se para norte numa rua transversal àquela que o carro seguiu. Mais à frente os clarões intensificavam-se e Alano percebeu um ajuntamento de viaturas e pessoas, quando de súbito, mesmo antes de lá chegar uma nave se imobiliza mesmo por cima de Alano.


Enquanto gesticulava sem convicção de sua libertação, Alano dá por si a flutuar horizontalmente com o rosto para baixo, a uns 3 metros de altura, entre o solo e a nave. Curiosamente tudo lhe pareceu muito natural, e enquanto se deliciava com a sensação de flutuação, perante o receio expresso de uma possível queda, foi sossegado por uma voz que escutou dentro de sua cabeça, que lhe dizia que estivesse calmo. Por detrás de Alano desce um ser humanóide que ele não vislumbra completamente. Alano sabe que é ele que lhe dirige os pensamentos telepáticamente. Flutua lentamente junto a Alano e imobilizasse, um pouco mais abaixo de Alano, ao seu lado.


Fica a Nave imobilizada, Alano no meio, o ser logo abaixo de si e por fim o próprio solo. Entre eles todos excepto no solo, uns fios algo dourados como se fosse esparguete que logo se dissolvem. Sem se virar, pairando à frente, Alano escuta a suave mas firme voz que diz a Alano que coloque a sua mão nas costas dele. Ao som da sua voz Alano olha para ele melhor. É uma forma humana masculina do tamanho de um adulto. Calvo, sem vestuário Alano vê que a pele deste ser apresenta cicatrizes de ferimentos terríveis, como se suas costas tivesse sido outrora retalhadas por profundos golpes. Não conseguindo desviar o olhar destas costas tão duramente castigadas, enquanto Alano coloca a sua mão sobre a omoplata desse ser, apercebe-se do desgaste geral da pele desse ser, que apresenta uma cor que vai do um dourado a um dourado queimado, só contrastando as costas e seus profundos riscos em cor vermelha, de ferimentos profundos.


Assim que Alano colocou a mão em seu ombro castigado, foram planando até tocar o solo onde já em pé e sempre com a mão no ombro do ser, Alano vê pela primeira vez o seu rosto.


- Coloca as tuas mãos sobre eles – diz-lhe enquanto o olha de frente. Quando Alano pára de olhar para ele para entender ao que se referia, sente que é o contacto da sua mão nele, que possibilita que o ser fale o dialecto de Alano, e de sua boca saem o som das palavras que conhecemos.


Alano pensa: Estamos no canto angular entre duas enormes viaturas. Juntas formam um ângulo recto.


Na estreita passagem que sobra entre o espaço onde estas se encontram, Alano vê umas quatro ou cinco criaturas humanóides. O ser orienta Alano para elas, e Alano é surpreendido pelo estado de seus corpos, ainda piores. Estão horrivelmente negras estas criaturas, como carbonizadas apesar de estarem vivas. Alano retira a mão de seu companheiro e inicia a colocar as mãos nestas piedosas criaturas que ao toque mais parece a Alano estar a tocar em golfinhos que humanóides. As suas peles e articulações aproximam-se mais de um ser aquático que de um ser terrestre. E estão terrivelmente queimadas. Assim lhes coloca as mãos, a uma e a outra, uma delas diz-lhe abnegadamente assim que vai a ser tocada: - a ele primeiro.


Então Alano repara que uma delas está terrivelmente deformada, todo queimada e contorcendo-se silenciosamente num sofrimento indescritível. Assim que Alano lhe coloca a mão sobre o dorso, o contacto é de uma superfície mole e seus ossos mais parecem uma vez mais, antes um mamífero aquático que um mamífero terrestre. Mas assim que lhe coloca as mãos, e uns aos outros, todos rapidamente adquirem um tom diferente e uma postura mais elevada, e de seus corpos irradiam uns sorrisos perfeitos, maravilhosos, uns sorrisos que abraçam.


Alano está envolvido por este grupo de seres, entretanto tudo supervisionado pelo primeiro ser que desceu da nave, e Alano sente-se maravilhado e tenta perceber o que se passa.


Compreende então que estavam estes seres a ser massacrados pelos seus próprio irmãos humanos, militares e mesmo alguns civis ao que lhe pareceu, quando foram resgatados pelos seus companheiros do céu.


Alano percebeu que tinha sido escolhido por estes seres maravilhosos, para interprete da linguagem humana, para ajudar a desmontar um circo cruel e desumano, assumir o papel de verdadeiro irmão.


Alano emitiu por essa altura a sua primeira palavra, que ainda agora ressoa em sua mente, ininterruptamente. Enquanto olhava para um deles, estando todos em contacto, com as mãos nos ombros, no peito e nas costas, exclamou com o coração emocionado:


- Nunca fui amado tanto!


Enquanto trocavam olhares amistosos, uns para os outros, o primeiro companheiro de Alano unido pelo contacto das mãos, traduzia para eles para que compreendessem o que Alano acabava de dizer. E eles então, sorriam ainda mais, numa expressão que fazia esquecer e apagar seus corpos maltratados pelos irmãos terrestres.


Foi então que Alano entendeu, a missão do Reiki.

segunda-feira, abril 05, 2010

nu... desde pequenino

As vozes dos meus irmãos silenciam-me.

Silencia-me a beleza do rio, 
silencia-me o teu olhar, 
silencia-me o rio.

É então que silenciado pela graça dos teus manifestos, 
enfim encontro alguma calma, 
alguma paz, 
algum esvaziamento.

Este vazio, perde a noção do tempo...

 Acordar, ainda que por breves momentos.
Viver. 
Tudo entregue. 
Sem medo, nem vontade. 

Só... 
só... 
só... como Deus está só.

Entrega os teus votos, fica nu.
desde pequenino...

nós...

...nós somos a revelação possível 
de um relacionamento com Deus...