Se as árvores pudessem falar, o que nos diriam?
Que segredos poderíamos saber a partir dos seus relatos?
Elas resistem aos temporais, ao calor, às chuvas, aos ventos. Muitos se abrigam sob sua sombra, servem-se dos seus frutos.
Quantas gerações sobem em uma mesma árvore, através dos anos?
De uma forma romântica, quando olhamos para uma pintura de Auguste Renoir, Paysage aux collettes, e vemos, em primeiro plano, duas árvores retorcidas, retratando uma paisagem do local em Cagnes-sur-mer, que ele transformara em sua residência de inverno, não podemos nos furtar a imaginar as árvores que o terão inspirado.
E se pudéssemos entrevistar uma delas, que nos poderia dizer dessa genialidade que foi um dos maiores mestres da pintura impressionista, ao lado de Degas e Monet?
Talvez nos confidenciasse algo mais ou menos assim: Eu posei para Renoir. Foi minha natureza selvagem que atraiu a atenção daquele gênio.
Quatro séculos de vento e sol na Provença, na França, me deram o formato contorcido. Mas eu morreria se não fosse ele.
Em junho de 1907, ele comprou a terra debaixo das minhas raízes, em Les Collettes e impediu que um horticultor cortasse todas as árvores para plantar cravos.
Ele transformou este local em seu refúgio para o trabalho e a vida doméstica.
Na época, Renoir tinha sessenta e seis anos e já andava como um velho. Os filhos o carregavam para se sentar nas minhas raízes com seu cavalete.
Certo dia, eu o ouvi se queixar de mim ao seu marchand, Ambroise Vollard: “As oliveiras são horríveis de pintar.
Se você soubesse a dificuldade que tenho com esta aqui...
Ela tem tantas cores, nada é cinza. As folhinhas minúsculas realmente me fizeram suar! Uma lufada de vento e o tom muda.”
E, no entanto, ele me imortalizou. Poderei ser arrancada algum dia, ou ceder aos golpes de um machado cruel, e não morrerei.
Minha essência foi captada por ele e colocada na tela, em especial colorido.
E, embora Auguste Renoir reclamasse de mim, posso afirmar que fomos irmãos. Seus dedos deformados pelo reumatismo se pareciam com os meus galhos.
Há muito ele se foi, mas não esqueci um segundo do tempo que passamos juntos.
* * *
Seria verdadeiramente maravilhoso se entrevista deste género se pudesse concretizar. Seriam tantas as informações que nos poderiam fornecer as árvores que assistiram batalhas notáveis, com vencedores e vencidos; Ou as árvores das ruas, que vêem passar as crianças, se tornarem adultos e terem seus próprios filhos.
Que nos poderia confidenciar aquele resistente carvalho polonês, crescido à entrada de um quartel, que se transformou em um campo de concentração nazista?
Quantas vítimas passaram sob seus galhos?
Quanta fumaça dos fornos crematórios terá respirado?
Sim, elas não podem falar. São testemunhas mudas. No entanto, nos dão a lição da serenidade pois assistem beleza, morte, tristeza, com a mesma serenidade.
Acompanham o decorrer do tempo e não lastimam a soma dos anos. Em sua imobilidade, nos leccionam resistência. E, não importando a maldade ou a bondade das criaturas, oferecem a mesma sombra, os mesmos frutos, servindo sempre.
Pensemos nisso. Aprendamos com elas.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
O que a árvore viu, de Seleções Reader’s Digest,
de agosto de 2013