sexta-feira, maio 31, 2019

Inoperância cívica e social

Desde que me recordo na assim denominada democracia, em sociedade existe todo um esforço pedagógico para educar os cidadãos de forma a estes constituírem uma sociedade justa, esclarecida, fraterna e evoluída.

Sendo a governação de uma sociedade, um modelo que se pretende implementar em que cidadãos participem activamente, verifica-se contrariamente que são os actores políticos do governo um repetido exemplo de agentes da mesquinhice que afasta o cidadão da vida política activa, sentindo-se um marginalizado ou cidadão de inferior categoria social. 

Considerando esta introdução, faz sentido uma reflexão sobre o tema, utilizando um simples e compreensível exemplo, e multiplicar por a quase totalidade das atitudes prepotentes de dirigentes nos diversos meios, escolas, hospitais, empresas, etc.

“Numa determinada cidade, há imenso tempo se sofre a falta de um edifício especializado para uma certa função. 

Com uma plena consciência desta necessidade junto do comum cidadão dessa cidade, finalmente o governo consegue reunir consenso a vários níveis para ser lançada mediante concurso a obra, para benefício de todos.

Passaram-se 3 anos desde que a obra foi lançada.

Mais de duas centenas de almas das mais diversas especialidades, operam dia após dia, fazendo sol ou chuva, almoçando juntos entre os tijolos enquanto o edifício toma lentamente forma. Mais de um milhar de dias em que muitos pernoitaram na obra, riram, choraram, foram dias passados vendo a obra crescer e envelhecendo junto com ela. 

Desses trabalhadores responsáveis por a materialização desse edifício, entre alguns acidentes ligeiros fica registada inclusive a trágica morte de um trabalhador que sucumbiu no cumprimento da sua missão cívica: trabalhar de manhã à noite para no erigir desse edifício que das suas mãos brotou, em consequência levar o sustento familiar ao final do dia para casa.

Ao final de cerca de três anos de intensas histórias de duas centenas de pessoas, de toda essa carga emocional humana, fica como testemunho, como assinatura, um magnifico edifício construído, que irá ser finalmente de grande utilidade para todos cidadãos.

Passaram-se três anos e o edifício pronto é marcada a inauguração.

É dia de festa na cidade, anunciado feriado municipal, vem convidados de fora, a frente do edifício é engalanada, as ruas coloridas com decorações, o governante local e sua comitiva escolhida de gente bem vestida e de alto gabarito, comparece para perante os média, perante o rádio, jornalistas e televisão cortar a fita e quebrar a garrafa de champanhe. 

Toda esta festa inaugural, continua dentro do edifício com um maravilhoso almoço, para essa diminuta comitiva onde se seguem os discursos e as fotografias, os louvores e os aplausos.

Entretanto, onde estão as duas centenas de trabalhadores nesta inauguração? 

Nem um foi convidado! 

A elegante placa dourada na entrada do edifício, menciona um nome que nem um prego colocou no edifício, não de algum trabalhador, nem tão pouco daquele que na obra perdeu tragicamente a vida pelo edifício. 

Nas fotografias institucionais aparecem muitos estranhos engalanados, mas nenhum dos trabalhadores foi convidado, para nenhum dos momentos inaugurais do edifício, nem ele nem ninguém de sua família, nem a viúva do trabalhador que perdeu a vida a trabalhar.

Este é o ilógico deste modo de reconhecer as pessoas válidas e verdadeiros intervenientes de uma sociedade em construção. 

A mensagem pedagógica que passa, só acentua divórcio entre o povo e as classes governativas.

Como é possível os governos esquecerem os governados?!

Esquecer que sem povo para governar a sua existência é uma falácia e os seus feitos uma mentira.

Haja vergonha, e dê-se o mérito inclusivo a quem merece, quando merece!

O desprezo que os poderosos sentem pelos mais desfavorecidos, é o reconhecimento de sua própria vergonha.

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