Parte do Cap. XIII - A Individualidade repara os desequilíbrios provocados pela personalidade - Págs. 157 a 160
Portanto, durante o quinto exercício de ginástica, podeis aperceber-vos de que, quando as pernas se deslocam, a metade superior do corpo não fica rígida, e é isso que vos mantém em equilíbrio. Há tantas lições que podemos tirar daqui! Mas, na vida, os humanos não
estão habituados a ver verdadeiramente as coisas, observam-nas sem as ver, não captam o seu sentido profundo, classificam-nas numa gaveta e continuam na sua vida vulgar. Tomemos o caso de um marido que quer introduzir alterações na sua vida, nas suas relações com a mulher ou com os filhos: antes de se decidir, ele deve consultar a natureza superior, senão corre o risco de provocar muitos transtornos, que não tinha previsto. Tenho visto muitas pessoas tomarem decisões sem consultarem ninguém, sem preverem nada, sem estudarem que remédios aplicar para evitar tragédias!
Sempre que se decide uma mudança sem prever as suas consequências, ocorrem repercussões lamentáveis. Tudo reside na capacidade de previsão.
Uma pequenina inovação num dado domínio acarreta, por vezes, alterações extraordinárias em todos os outros: económico, político, científico, técnico, religioso, etc. Basta tomarmos como exemplo o automóvel. Todos os domínios da vida foram completamente transformados com a sua invenção: não só o ritmo da vida quotidiana, mas também as serviços, os negócios, o direito, o trabalho e até as férias; para não falar da higiene coletiva, com a questão da poluição das cidades. Também no domínio da saúde, penso que numerosas doenças do coração ou certas anomalias psíquicas se devem ao automóvel, embora as pessoas não se apercebam disso. E que mudanças houve nos lares e nas famílias!... Por vezes, até um casamento depende de um automóvel: ou não se compra nenhum... ou compram-se dois! E quantas ligações ou ruturas ocorrem porque se tem esta ou aquela marca de automóvel!...
O que é, então, a personalidade? É o movimento que se produz na natureza inferior. Por isso, se o homem não apela à individualidade para preservar o equilíbrio, é vítima de toda a espécie de acidentes e de infelicidades. E é o que acontece todos os dias. Vê-se cada vez mais pessoas desequilibradas, desorientadas, porque deram uma prioridade absoluta à natureza inferior, aos prazeres, aos caprichos, aos apetites, às cobiças, e depois veem-se envolvidas em aborrecimentos incríveis. Um homem instala-se num restaurante e manda vir os pratos mais caros sem ver os preços. No fim, quando lhe trazem a conta, é uma soma astronómica! Como ele não tem com que pagar, levam-no para a esquadra da polícia! É esta – simbolicamente – a situação daqueles que só escutam a sua personalidade.
Caros irmãos e irmãs, se aceitardes ter em consideração estas grandes verdades, escapareis a muitos aborrecimentos. Percebereis em que situação vos encontrais, em que é que vos enganastes e como, doravante, podeis ver com clareza e refazer a vossa existência. Isto vale milhões! Mas, infelizmente, entre os três ou quatro conselhos catastróficos que a personalidade vos dá, está o de vos agarrardes firmemente às vossas preocupações e aos vossos problemas, mesmo quando vindes aqui, ao Paraíso. E para que é que ela vos aconselha isso? Para vos impedir de aprender, porque ela sabe que, quando houver luz em vós, será obrigada a zarpar e não tem interesse em que o homem saia da sua ignorância. Há tantos de vós que eu vejo chegar aqui com os seus fardos, os seus pesos! Eu digo-lhes: «Deixai-os à porta! Entrai, aprendei todas estas verdades, e depois, quando fordes embora, pegai neles novamente, se isso vos dá prazer.» Mas não, eles agarram-se aos seus fardos, não querem separar-se deles de forma nenhuma! E é por isso que alguns – eu vejo bem isso – nunca poderão progredir. E nem sequer se apercebem de que é a personalidade que os influencia. Mas atenção, ela tem outras manigâncias, que ainda não conheceis... Por exemplo, recorre também a esta linguagem:
«Meu velho, tu és pó e em pó te tornarás. Então, que ideia é a tua?
Deves ser sensato, razoável, e agir em conformidade com tudo o que é aceite pela maioria. Não há outro caminho.» Portanto, ela convence os homens de que eles não podem sair da sua mediocridade. E sabeis como é que eles reagem?... Como uma galinha hipnotizada: traçaram à volta dela um círculo de giz para lhe fazer crer que não pode sair dali, e ela não sai. O homem é, na verdade, como uma destas galinhas; a personalidade está sempre a repetir-lhe: «Tu és limitado, és mortal, não deves ir mais longe. Deves reduzir as tuas ambições, permanecer dentro dos teus limites...», e então ele, coitado, fica enfeitiçado, não consegue avançar... Até que, finalmente, chega a individualidade, que lhe diz: «Mas isso é um simples risco de giz! Tu és livre, podes passar, avança!». Ele experimenta... e apercebe-se de que é verdade. Deveis escutar a individualidade, pois ela não vos impõe limites, encoraja-vos sempre: «Avança, tu és capaz, tens força, podes ir até ao infinito!»
Portanto, por hoje, fixai estas duas armadilhas da personalidade e, de agora em diante, não vos deixeis influenciar quando fordes assaltados por preocupações e receios. Isso pode acontecer-vos mesmo estando vós nesta Escola Divina, mas a vossa atenção não deve concentrar-se nesses estados negativos; senão, como quereis que o lado divino se infiltre em vós? Muitas vezes, as pessoas vêm aqui e não compreendem nada, quando é tudo tão fácil de compreender! Elas barram o seu próprio caminho. É preciso instruir os humanos para que eles deixem de se sentir continuamente limitados.
Posso revelar-vos ainda muitas coisas sobre a personalidade, as suas manigâncias, as suas artimanhas, os seus ardis, nos quais caís todos os dias por falta de conhecimento. Confiaram-me precisamente este papel de vos esclarecer sobre a realidade das coisas para vos ajudar a fazer grandes progressos; mas vós ficais agarrados aos vossos velhos preconceitos. Se eu não conseguir ajudar-vos com a luz deste Ensinamento, quem vos ajudará? Direis: «Deus nosso Senhor.» Está bem, mas ficai a saber que Deus nosso Senhor não se ocupa muito destes detalhes e tem mais que fazer do que pensar em cada um de nós. Por isso, Ele deixa-nos um pouco e confia-nos a outros, seus servidores, que nós devemos escutar. E, se não os escutarmos, que quereis que Ele faça? Sim, pensai em todas as guerras, em todas as doenças, em todos os acidentes que ocorrem... Porque é que o Senhor ainda não veio livrar-nos disto? Eu não quero dizer que Ele não nos ajuda. Não! Mas o que pode Ele fazer se nós estivermos fechados?
Tomai como exemplo o Sol: ele é muito poderoso, faz girar todos os planetas, é ele que os impele e os vivifica. No entanto, se não abrirdes a cortina do vosso quarto, apesar de toda a sua potência, ele não consegue entrar. Muitas vezes, as pessoas deixam a cortina corrida e dizem: «Entra, entra, meu caro Sol, estou a convidar-te.» E ele responde: «Não posso. – Porquê? – A cortina!»
Então, aqueles que me compreenderam abrirão a cortina, o Sol entrará e a luz inundá-los-á. O Sol é um símbolo do Senhor. Claro que o Senhor é omnipotente, Ele faz mover todo o Universo, mas, quando se trata de abrir uma cortina, Ele não consegue, cabe-nos a nós fazê-lo para que Ele entre.
Há pessoas muito cristãs, muito crentes, que se entregam sempre nas mãos de Deus. Mas, então, porque é que Ele as deixa estar constantemente em apuros? Porque elas não sabem fazer o que é necessário para atrair as bênçãos. Elas pensam que basta lançar-lhe um engodo, tal como se convida para jantar uma personalidade de alto nível para depois se conseguir obter, por seu intermédio, uma autorização ou um favor. Muitas pessoas pensam que podem agir do mesmo modo com o Senhor. Não podem convidá-LO para jantar, mas prometem que Lhe acenderão uma vela. Como se se comprasse o Senhor com uma vela! Podemos obter os seus favores, sim, mas de outra maneira: é preciso conhecer a sua natureza, conseguir descobrir os seus gostos (porque é que o Senhor não haveria de ter certos gostos?) e conseguir agradar-Lhe. Então, Ele atenderá imediatamente os vossos pedidos.
Eu conheço um dos seus gostos. Ele aprecia imenso uma qualidade, que é o reconhecimento: perante um ser reconhecido, Ele cede imediatamente. É como um pai; um pai não pede nada ao seu filho, dá-lhe tudo sem esperar qualquer retribuição, mas há uma coisa que o torna feliz: é simplesmente que o filho reconheça a sua bondade e a sua generosidade; senão, embora não chegue ao ponto de ficar furioso, sente-se um pouco contrariado. O Senhor é assim: Ele não necessita de nada, tem tudo, mas gosta de ver que os seus filhos reconhecem que Ele é um bom pai.
E eu conheço ainda um outro gosto do Senhor: Ele gosta que se aja de maneira impessoal. Quando um ser Lhe dá tudo e se consagra a Ele, dizendo: «Senhor, tudo o que eu possuo Te pertence; dispõe disso conforme entenderes!», o Senhor capitula. Mas, se O ameaçardes de que não voltareis à igreja se Ele não fizer com que a vossa mulher morra para poderdes casar com outra... Estais admirados? Se soubésseis quantas orações deste género são recebidas no Céu! «Senhor, faz com que o meu marido morra para eu poder casar com o meu amante.» Pois bem, o Céu nem sequer os ouve. Há muitos, muitos, que pedem dinheiro, carros, bens materiais, e então, lá em cima, eles dizem (eu ouvi-os!): «Ora esta! Só há pedidos interesseiros! Nós estamos sobrecarregados, extenuados, com todas estas cartas que pedem dinheiro, prazeres, mulheres, filhos, diplomas... Vão ter de esperar, pois não podemos examinar todo este correio.» Mas, quando eles encontram algum pedido para servir o Senhor… Ah, é tão raro haver uma carta assim, que eles ficam logo maravilhados e apressam-se a satisfazê-lo.
Como vedes, eu estou bem informado! Se não acreditais em mim, ide verificar. Vereis que eles vos dirão: «Nós nunca satisfazemos os pedidos interesseiros, porque estamos absolutamente invadidos por papelada desse tipo.» Com efeito, o que são os pensamentos?
Eles também são cartas... Mas não podemos esquecer-nos de pôr um selo, senão não somos atendidos. E o selo, claro, é simbólico!
Cabe-vos a vós descobrir que selo é esse.
Le Bonfin, 8 de agosto de 1972